Sistemas com poços profundos podem ficar inviáveis se não houver estudo
FOTO: HONÓRIO BARBOSA
Iguatu. O Grupo de Trabalho do Comitê da Seca, reunido
na manhã de ontem, em Fortaleza, passou a exigir dos municípios que
solicitam perfuração de poços profundos a apresentação de estudo
geofísico. A medida tem por objetivo evitar desperdício de recursos
públicos, perda de tempo em decorrência do elevado índice de poços secos
ou que apresentam reduzida vazão, inviabilizando o uso pelas
comunidades rurais.
A crise de desabastecimento hídrico vem se agravando no Interior do
Estado, tanto em localidades do sertão, quanto do litoral. No decorrer
dos próximos meses, a situação deve piorar, ante a falta de chuva para o
período, elevação da temperatura e maior consumo de água. Resultado: é
crescente a demanda por abastecimento de água.
De olho nesse quadro, autoridades tentam ampliar o fornecimento de
carros-pipas, a perfuração de poços profundos e a instalação de adutoras
para transferência emergencial de água. O trabalho de perfuração de
poços profundos passa a ter agora a coordenação da Secretaria de
Recursos Hídricos (SRH).
Em muitas comunidades na zona rural do Estado, o abastecimento
só é
possível por meio dos carros-pipas. Do contrário,
a situação é escassez
total.
A novidade está em uma portaria publicada ontem pelo Comitê da Seca. "A
situação é crítica em todo o Estado e há muita pressão", disse o
secretário adjunto da Secretaria de Recursos Hídricos, Antonio Amorim.
"As Prefeituras apresentavam uma relação de comunidades, com solicitação
de poços profundos. Os poços eram perfurados, sem estudo geofísico, e
muitos eram secos ou apresentavam baixa vazão. Isso significa
desperdício de tempo e de dinheiro público".
O objetivo é que o trabalho de perfuração de poços profundos coordenado
pela SRH apresente melhor resultado. "Vamos exigir, como contrapartida
dos municípios, o estudo geofísico, evitando perfurações aleatórias",
disse Amorim. "A prioridade, a partir de agora, é atender as
solicitações devidamente encaminhadas, com o estudo geológico",
advertiu.
Amorim disse que o governo do Estado está em fase de conclusão de
perfuração e instalação de 395 poços profundos em localidades rurais de
municípios do Interior, nas áreas mais castigada pela estiagem. A seca
assola o sertão cearense por três anos seguidos. "A ação faz parte do
programa Água para Todos e deve ser concluída no próximo dia 15", frisou
Antonio Amorim. "Cinco empresas foram contratadas e o trabalho começou
em junho passado".
A Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) dispõe de seis
máquinas perfuratrizes e aguarda a chegada de mais quatro, enviada pelo
Ministério da Integração Nacional.
O órgão tem uma demanda de mais de três mil poços e uma capacidade de perfurar, em média, 300 poços por ano.
Tratamento de água
Depois de dois anos de espera para conclusão do processo de licitação,
finalmente serão instaladas 900 unidades de tratamento de água de poços e
açudes, beneficiando cerca de 30 mil famílias em várias cidades do
Ceará. "Essas estações móveis serão entregues ainda na primeira quinzena
deste mês", disse Antônio Amorim. "A demora foi decorrente de um
processo na Justiça por uma das empresas que participaram da licitação".
O titular da SDA observou que a burocracia e demandas judiciais
decorrentes de processos licitatórios atrasam as ações emergenciais de
combate aos efeitos da seca. No Ceará, os açudes estão secando. O nível
atual dos 149 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh) é de 27,8%, considerado crítico.
Esse índice caiu 1% nos últimos 15 dias. No fim do ano, é provável que
esteja em menos de 20%. Ao final da quadra invernosa, o índice era de
30,69%. No Estado, 24 cidades enfrentam racionamento de água e esse
número tende a crescer nos próximos meses.
Ampliação
A Comissão Estadual de Defesa Civil (Cedec) está ampliando a
assistência às cidades com necessidade de abastecimento pelo programa
emergencial. De acordo com o major Holdayne Pereira, 150 caminhões-pipas
foram cadastrados para prestar o serviço no Estado. Neste mês,
Atualmente, 14 municípios estão recebendo as rotas de abastecimento por
carro-pipa, por meio da Cedec.
São eles: Tejuçuoca, Marco, Granja, Aracoiaba, Morrinhos, Trairi,
Miraíma, Jijoca de Jericoacoara, Acaraú, Itarema, São Luiz do Curu,
Paracuru e Apuiarés. A instituição e o Exército Brasileiro estudam a
possibilidade de reativação de antigas rotas em decorrência do
crescimento da demanda por água.
Em outubro do ano passado, o professor do Departamento de Geologia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Raimundo Mariano Castelo Branco,
criticou a falta planejamento, de pesquisa criteriosa e de um trabalho
em longo prazo, e não apenas a realização de serviço emergencial. "Não
podemos esperar a seca chegar para sairmos cavando poços, sem um estudo
criterioso", frisou Mariano. Ele antecipou, à época: "Há o risco de
muitos poços não apresentarem vazão adequada ou o que é pior, serem
secos, trazendo perda de tempo e dos recursos públicos, com o dinheiro
jogado fora".
Solo cristalino
O ambiente geológico da ampla maioria dos Estados da região Nordeste é
complexo, com composição de cristalino. No Ceará, esse tipo de rocha
expande-se em cerca de 70% do território. O subsolo sedimentar dá água
mais rasa, entretanto, é mais restrito. Permite a escavação das
populares cacimbas e de poços rasos com profundidade média de 10 metros,
a exemplo do que ocorre nas várzeas e aluviões dos rios.
Na época, o professor Raimundo Mariano observou que, de dez poços
profundos cavados há pouco tempo no Sertão Central, a metade não deu
água. "A possibilidade de poços secos é enorme", observou. "Se não
houver estudo adequado, o risco é bem maior e o programa pode
fracassar". Isso varia conforme a região. Nos Inhamuns, por exemplo,
pode chegar a 80% de poços inviáveis.
O Grupo de Trabalho é formado pela Secretaria de Recursos Hídricos
(SRH), Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), a Comissão
Estadual de Defesa Civil, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(Cagece),SRH, Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Dnocs,
Cogerh e Funceme.
Racionamento tende a crescer
Juazeiro do Norte. A escassez de água em reservatórios
hídricos que abastecem municípios da região do Cariri continua a
ocasionar preocupação junto às populações atingidas pela falta de
abastecimento. O problema vem obrigando as gestões municipais a
estabelecerem sistemas de rodízio e racionamento na distribuição do
líquido. Estimasse que cerca de 50 mil pessoas estejam prejudicadas até o
momento. Os números, no entanto, podem crescer nos próximos meses,
conforme avaliam os gestores nos municípios.
Em algumas cidades, o abastecimento só está sendo possível através do
programa de distribuição hídrica criado pelo Governo Federal,
popularmente conhecido como Operação Pipa, desenvolvido no Ceará pelo
Exército Brasileiro, por meio do 23º Batalhão de Caçadores, sediado em
Fortaleza, e da Defesa Civil do Estado. Há regiões, no entanto, onde a
distribuição é difícil, seja pela distância ou pela falta de condições
de deslocamento às comunidades.
Em Antonina do Norte, por exemplo, a situação é classificada como
caótica pelo secretário de Agricultura do município, Antônio Dias de
Andrade. A barragem Mamoeiro, responsável pelo abastecimento de grande
parte do município, possui somente 15% de sua capacidade total de
armazenamento. O Açude do Coronel, outro importante reservatório, teve
suas águas condenadas pela Defesa Civil do Estado, após laudo
laboratorial que classificou as águas represadas como impróprias. Há
receio de que as águas ainda existentes no Mamoeiro não sejam
suficientes para que o abastecimento aconteça até o final deste ano.
No município de Salitre, as comunidades mais afetadas com a falta de
abastecimento são Arapuca, Água Branca, Baixiinho, Lagoa dos Crioulos,
Açude Novo e Bulandeiras. "Infelizmente a realidade é essa. Só que a
situação se complicou no município por inteiro. O abastecimento só tem
sido possível por meio dos carros-pipas. A seca é total", garante o
secretário dos Recursos Hídricos, João Costa. Conforme afirmou, a água
utilizada pela operação de distribuição hídrica é proveniente de
Araripina (PE) por conta das deficiências também registradas em
municípios vizinhos no Ceará.
A população de Araripe também enfrenta dificuldades de abastecimento
por conta da diminuição na reserva hídrica do município. Mesmo tendo
sido registrada uma quadra invernosa regular este ano, os reservatórios
não captaram água suficiente para suprir a demanda de abastecimento até o
próximo ano, segundo afirma o secretário do Desenvolvimento Agrário
Econômico local, Rutemberg Fortaleza. O principal reservatório do
município é o da Alagoinha que possui, atualmente, apenas 30% de toda
sua capacidade.
O município já estuda a realização de racionamento na distribuição da
água. "Existe essa possibilidade. Se o consumo de mantiver da forma como
vem acontecendo, existe possibilidade de racionamento na distribuição",
disse Fortaleza.
Conforme o coronel Ricardo Rodrigues, chefe da Assessoria de
Comunicação da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado, em alguns
municípios da região do Cariri houve diminuição no número de operações
por conta da regularidade pluviométrica registrada durante a quadra
invernosa deste ano.
"É possível uma nova análise das situações, Conforme a necessidade, um
novo plano pode ser criado para ampliar, ou não, a utilização dos
carros-pipa nestes municípios", informou.
Mais informações
Coordenadoria estadual de defesa civil - (85) 3101. 4600
Secretaria de desenvolvimento agrário do estado
(85) 3101. 8105
Honório Barbosa/Roberto Crispim
Repórter/Colaborado
Repórter/Colaborado
Fonte: Diário do Nordeste.
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