Participaram
dos testes 183 pacientes, sendo 122 do Brasil, 30 do México, 23 do
Chile e oito do Uruguai (Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
Um estudo envolvendo um consórcio de instituições de oito estados
brasileiros, além de cientistas do México, Uruguai e Chile resultou na
cura de 80% de um grupo de pacientes da América Latina, diagnosticados
com Leucemia Promielocítica Aguda (LPA). A pesquisa baseou-se na
aplicação de um novo protocolo de tratamento que privilegia a rapidez no
diagnóstico: ao invés de até sete dias, o laudo levou seis horas para
ficar pronto.
Os pesquisadores ainda testaram a utilização de medicamentos mais
baratos e que, no Brasil, estão disponíveis no Sistema Único de Saúde
(SUS). O estudo que começou em 2006, teve os resultados publicados no
fim de 2012 na revista norte-americana Blood, referência mundial em
doenças do sangue.
LPA
A LPA é um tipo raro e agressivo da doença que provoca hemorragia no paciente. Com os tratamentos atuais, a doença leva metade dos doentes a óbito, sendo que 30% morrem em menos de um mês após o diagnóstico. Após o novo protocolo, o percentual de doentes que não resistiram aos 30 primeiros dias caiu para 15%.
De acordo com o médico Eduardo Magalhães Rego, do Hemocentro da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto
(SP) e coordenador do estudo no Brasil, o índice é comparável ao de
países desenvolvidos e só foi possível alcançá-lo por meio da
padronização do atendimento nos hospitais, com o uso da mesma medicação e
dos testes mais rápidos para detectar a doença.
As amostras coletadas dos pacientes foram analisadas pelo médico
brasileiro no Hemocentro. O pesquisador explica que o tempo de seis
horas para o diagnóstico possibilita que o paciente inicie o tratamento
imediatamente. “O primeiro fator [que influenciou no bom resultado] foi a
disponibilização de um teste rápido, desenvolvido pelo professor
Brunangelo Faline, na Itália. Ele doou os reagentes para o consórcio e
nós treinamos indivíduos em cada um dos hospitais para fazer o teste.
Com isso, nós aceleramos o tempo para iniciar o tratamento”, diz.
Métodos demoravam de 3 a 7 dias para apontar o
diagnóstico de LPA, nova técnica aponta resultado
em 6h (Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
em 6h (Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
Participaram dos testes 183 pacientes, sendo 122 do Brasil, 30 do
México, 23 do Chile e oito do Uruguai. “No Brasil, todos os que foram
incluídos são pacientes do SUS. Existe um protocolo gêmeo a este nosso
na Espanha, só que uma das drogas usadas na quimioterapia é a
Hidarrubicina, esse medicamento é mais caro. Nós usamos a
Daunorrubicina, que é mais barata, e nosso resultado não mudou”, diz
Rego.
Rede
Os resultados foram discutidos pelos pesquisadores em conferências pela internet. Um programa desenvolvido pelo consórcio permitia a inserção de imagens das amostras colhidas dos pacientes durante as audiências. Além dos institutos consorciados, também colaboraram médicos dos Estados Unidos, Itália, Holanda, Espanha e da Inglaterra.
“A ideia de se trabalhar em rede é que você consegue acelerar o
diagnóstico, o que nessa doença é fundamental, exatamente por conta das
complicações hemorrágicas. Você troca experiências entre especialistas
nacionais e internacionais, consegue estabelecer um sistema de logística
interna no Brasil, em que você pode adotar um laboratório central -
nesse caso em Ribeirão Preto - e, além dos exames serem feitos em cada
centro participante, você tem um teste confirmatório por um laboratório
central”, detalha o pesquisador.
Resultados do estudo eram discutidos pelos
pesquisadores em uma conferencia pela internet
(Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
(Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
No país, além da instituição de Ribeirão, participaram os hospitais
universitários da Faculdade Federal do Rio Grande do Sul, do Paraná, de
São Paulo, da Santa Casa de São Paulo, da Unicamp, Faculdade de Medicina
de São Paulo e da Fundação Hemocentro de Pernambuco.
Objetivo
Segundo Eduardo Rego, o objetivo do consórcio agora é que o tratamento seja expandido para outros países, como o Peru e o Paraguai - que já enviaram médicos a Ribeirão Preto para serem treinados -, além da popularização do método dentro do país.
“Primeiro nós queremos iniciar um estudo de registro com apoio da
Associação Brasileira de Hematologia de tal maneira que este tipo de
estratégia e esses testes sejam disponíveis para mais centros, mesmo
centros não universitários. Pretendemos iniciar um novo protocolo usando
a mesma estrutura dessa vez para outra forma de leucemia aguda”,
conclui.
Amostras
coletadas foram analisadas no Hemocentro da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). (Foto: Claudio
Oliveira/EPTV)
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário