>>Trecho da reportagem de ÉPOCA desta semana que está nas bancas
As ideias do filósofo americano Henry David Thoreau sempre estiveram à
frente de seu tempo. Ele morreu em 1862, a três anos de ver a
Constituição americana oficializar a proibição da escravidão, uma das
causas que defendera. Interessado nas interações humanas com a natureza,
foi um dos precursores dos conceitos de ecologia e ambientalismo. Sua
filosofia da desobediência civil – a resistência aos atos de governos
injustos – influenciou líderes como o pacifista indiano Mahatma Gandhi. O
pensamento de Thoreau permanece atual também num dos aspectos
essenciais da vida moderna, quando trata da relação entre humanos e seus
animais de estimação. Thoreau escolheu viver no campo, à beira de um
lago, para desfrutar a vida simples. Lá, depois de observar os vizinhos e
seus animais, chegou a uma conclusão que ainda hoje resume a relação do Homo sapiens com
seus bichos domésticos: “Com frequência, um homem é mais próximo de um
gato ou de um cachorro do que de qualquer outro ser humano”.

Desde os tempos de Thoreau, muita coisa mudou – mas esse aspecto da
vida moderna apenas confirmou a percepção do filósofo. Os animais
tornaram-se parte da família. Numa pesquisa recente, nove em cada dez
pessoas ouvidas nos Estados Unidos afirmam que seus sentimentos pelos
animais domésticos são semelhantes àqueles que nutrem pelas pessoas mais
próximas. Para os amantes dos bichos, é apenas a constatação do óbvio.
Para quem não gosta de intimidade com os animais, é um desvio de
comportamento a ser explicado por psicólogos. Como é possível o
sentimento por animais rivalizar com o apego às pessoas?
No recém-lançado What’s a dog for? (Para que serve um cão?,
sem edição no Brasil), o jornalista americano John Homans investiga as
explicações científicas e filosóficas para a “estranha situação de ter
um predador em sua casa, deitado de barriga para cima, esperando alguém
lhe fazer cócegas”. Em outro livro recente, também sem tradução no
Brasil, Another insane devotion (algo como Outra devoção insana),
o americano Peter Trachtenberg narra a procura por sua gata Biscuit,
metáfora para seu casamento em crise. Ele descobre que o amor por
Biscuit e o amor pela mulher guardam pontos em comum.

Goste-se ou não, a elevação do status dos animais a integrantes da
família está aí. Basta passear pelos perfis de amigos e parentes nas
redes sociais para constatá-lo. As fotos do cachorro disputam espaço com
as do bebê. As declarações de amor aos animais se sucedem em cascata.
Vídeos que capturam a fofurice de cãezinhos e as proezas de bichanos –
já viram os gatos cantores? – são campões absolutos de audiência. A
oferta de produtos e serviços para os bichos de estimação é mais um
indício de amor desmedido: há de padaria a manicure especializada, num
mercado que movimenta R$ 12,5 bilhões por ano no país. Estima-se que os
brasileiros, donos de 101 milhões de animais domésticos, gastem R$ 400
mensais em cuidados com eles.
Fonte: G1
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