O anúncio da cura de um bebê do sexo feminino que nasceu com o vírus
HIV movimentou o meio científico ao longo da semana. O relato,
descoberto e apresentado por médicos nos Estados Unidos, no último
domingo, 3, encheu de esperança, e de cautela, a comunidade médica. O
caso de cura funcional -quando a presença do vírus é tão mínima que não
aparece nos exames - estreia novas possibilidades de tratamento no
caminho da redução no número de bebês filhos de mães soropositivas.
O
caso foi apresentado na 20ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções
Oportunistas em Atlanta (EUA) pela médica Deborah Persuad, virologista
do Centro da Criança Johns Hopkins. O ineditismo da situação deve-se ao
fato de o vírus ter sido detectado no sangue do bebê em exames feitos no
2º, 7º, 12º e 20º dias de vida, antes de se tornar indetectável (29º
dia).
O bebê, que nasceu num hospital rural do Mississippi,
recebeu um coquetel de três drogas antirretrovirais apenas 30 horas após
o nascimento. O tratamento continuou até os 18 meses de vida, período
em que a carga viral ficou indetectável e a mãe aproveitou para
suspender as medicações do tratamento por 10 meses.
Quando a
criança voltou a ser consultada, o primeiro teste mostrou que não havia
níveis detectáveis de HIV. Assim como o segundo. “Naquele momento, eu
sabia que estava lidando com um caso incomum”, disse Hannah Gay,
especialista em crianças com HIV do Centro Médico da Universidade do
Mississippi, onde o bebê também foi tratado. Só exames que procuram
traços genéticos do HIV ainda mostravam resultado positivo, mas o vírus
não se replica mais.
Segundo a responsável pelo tratamento,
Deborah Persaud, o mais provável é que não tenha dado tempo para que
vírus formasse os reservatórios, por isso houve o sucesso da terapia. Se
for confirmado, este será o segundo caso de cura no mundo. Em 2007, o
americano Timothy Brown, conhecido por “o paciente de Berlim”, foi
considerado o primeiro caso. Ele tinha leucemia e recebeu, em uma
cirurgia na capital alemã, um transplante com células-tronco de um
doador que era geneticamente imune à contaminação pelo HIV. Estima-se
que apenas 1% da população seja resistente ao vírus.
O Ciência
& Saúde de hoje debate a importância do caso para a ciência com
argumentos de médicos que, embora bastante entusiasmados, pedem
“cautela”. Nas próximas páginas, será apresentado também o cenário, no
Ceará, dos casos de transmissão vertical - infecção de mãe para filho. A
descoberta da cura funcional pode abrir espaço para eliminar a infecção
pelo vírus apenas em recém-nascidos ou o caso pode se estender a
crianças e adultos? Médicos defendem que só o tempo vai dizer. (com agências)
NÚMEROS
30 horas depois de nascido, o bebê infectado pelo HIV recebeu três drogas antirretrovirais. O comum é apenas uma droga.
10 meses
após suspender os medicamentos, o bebê passou por uma série de exames,
quando não maisforam detectados os vírus HIV no sangue.
Saiba mais
Tim Brown: o homem que se curou da Aids em 2007
O
americano Timothy Ray Brown, 46, conhecido como o “paciente de
Berlim”, é o primeiro caso de cura do HIV. Em 1995, descobriu ser HIV
positivo, quando estudava em Berlim, na Alemanha. Deram-lhe dois anos
de vida. Um ano depois, durante terapia antirretroviral combinada, o
HIV deixou de ser sentença de morte, passando a ser controlável. Em
2006, descobriu também ter leucemia. No ano seguinte, Tim foi submetido
a dois transplantes de células-tronco. O doador escolhido era, porém,
imune à infecção pelo vírus HIV. Quando recebeu a medula, Tim curou-se.
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