
A espécie Bacillus infernus é um dos seres vivos a viver mais
profundamente abaixo da superfície terrestre: até 2,7 km Imagem: Henry
Aldrich
Não é todo dia que se noticia algo que pode mudar a História da
Ciência e o nosso entendimento sobre a evolução da vida na Terra.
Uma equipe internacional de cientistas, reunida sobre a
iniciativa Deep Carbon Observatory (DCO), fez descobertas surpreendentes
ao pesquisar sobre o carbono, o elemento químico por trás de todas as
principais moléculas presentes nos organismos vivos, notadamente nas
cadeias de RNA e DNA.
Segundo um dos pesquisadores, John Baross, da Universidade de
Washington, “a profundidade debaixo da superfície pode ter atuado como
um laboratório natural da origem da vida no qual múltiplos experimentos
naturais podem ter sido produzidos em dupla”. Um desses “experimentos”
químicos que podem ter se processado há cerca de 4 bilhões de aos é o
que a equipe científica está chamando de processo de “serpentinização”,
uma teoria alternativa sobre a origem da vida na Terra.
Segundo essa teoria, a rocha basáltica expelida por vulcões
subterrâneos reage quimicamente com a água de mar, o que produz
hidrogênio e o mineral “serpentine”. De acordo com os cientistas do DCO,
o hidrogênio gerado por este processo pode ter sido o alimento que
permitiu a aparição dos primeiros micróbios na Terra. Mas não na
superfície e sim em grandes profundidades.
O diretor-executivo do DCO e cientista da Instituição Carnegie,
Robert Hazen afirma que “em qualquer lugar do mundo, se você perfura a
vários quilômetros, encontrará vida em forma de micróbios”. A variedade
de vida bacteriana que se encontra em grandes profundidades e com
pressões extremas constitui um autêntico Galápagos das profundezas”.
Outro pesquisador ligado ao DCO, Steven D’Hondt, da Universidade de
Rhode Island, afirmou que esses micróbios “levam pelo menos centenas de
milhares de anos para se reproduzir, e é concebível que vivam sem se
dividir durante dezenas de milhões de anos. São zumbis microbiais. Hazen
vai mais além que Hondt e lembra que há alguns cientistas assegurando
que há micróbios com centenas de milhões de anos de idade, que viveram
em um estado estático, sem se dividir, em pequenos buracos nas rochas, e
quando foram expostos a um ambiente mais dinâmico, começaram a se
dividir”.
“É realmente extraordinário. Porque se a vida pode se manter passiva
durante grandes períodos de tempo, é provável que meteoritos levem
micróbios de um planeta a outro. Isso pode ser uma forma de movimentar
vida entre planetas”, declarou Hazen. Não é preciso nem dizer que as
novas descobertas animaram não só os estudiosos de micro-organismos ou
da evolução da vida, como também os astrobiólogos de plantão,
especialmente os que já trabalhavam com hipótese semelhante a essa.

O lignito é uma das formas do chamado carvão mineral, geralmente
preservando algumas características físicas do vegetal de que se
originou Imagem: Theodore Gray
O que é o DCO?
O Deep Carbon
Observatory, ou DCO, amplo programa de pesquisa sobre o carbono, começou
há três anos e culminou na terça-feira (5) com a publicação de um
volume de 700 páginas que contém as principais descobertas feitas pelo
grupo internacional, assim como as novas incógnitas geradas pelo
trabalho de cerca de mil cientistas de 40 países.
Um dos principais objetivos do programa, que tem um orçamento de US$
500 milhões, é saber com exatidão quanto carbono está armazenado nas
profundezas da Terra e onde. ”Estamos interessados em saber quanto
carbono há, onde está, como se movimenta de uma parte a outra do
planeta, quais são suas formas, estamos muito interessados no fenômeno
da vida microbial em grandes profundidades e como afeta o ciclo do
carbono”, declarou Hazen.
“É realmente um esforço para entender o carbono em escala global, da
superfície ao centro da Terra, não só o ciclo do carbono mais
superficial e do qual a maioria das pessoas fala, mas um ciclo mais
profundo que representa 90%, ou mais, do carbono em nosso planeta”. Esse
é o elemento químico mais importante. É o elemento da vida, o que deu
origem à vida. É um dos aspectos que estamos tentando entender, de onde
veio a vida”, acrescentou o pesquisador.
Algumas das descobertas mais fascinantes que foram reveladas pelo DCO
são precisamente as que dizem respeito à relação entre a vida e
carbono. As conclusões dos primeiros anos do programa e detalhes dos
próximos sete anos de atuações previstos estão sendo discutidos em uma
conferência internacional na Academia Nacional de Ciências em
Washington. Por exemplo, a de que há 4 bilhões de anos os processos
biológicos produzidos por micróbios começaram a alterar a mineralogia da
Terra, criando minerais que nunca teriam existido no planeta sem a
presença da vida.
Outra descoberta paralela do DCO foi a de que há vírus em grandes
profundidades no interior da Terra atuando de forma diferente dos vírus
da superfície: seu material genético é transferido de forma passiva ao
genoma de bactérias e pode permanecer durante uma infinidade de anos sem
se manifestar.
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