PAUSE PARA LER OS CONTEÚDOS

quarta-feira, 6 de março de 2013

Vida na Terra pode ter surgido nas profundezas do subsolo, revela estudo sobre o carbono

A espécie Bacillus infernus é um dos seres vivos a viver mais profundamente abaixo da superfície terrestre: até 2,7 km Imagem: Henry Aldrich 
 A espécie Bacillus infernus é um dos seres vivos a viver mais profundamente abaixo da superfície terrestre: até 2,7 km Imagem: Henry Aldrich

Não é todo dia que se noticia algo que pode mudar a História da Ciência e o nosso entendimento sobre a evolução da vida na Terra.

Uma equipe internacional de cientistas, reunida sobre a iniciativa Deep Carbon Observatory (DCO), fez descobertas surpreendentes ao pesquisar sobre o carbono, o elemento químico por trás de todas as principais moléculas presentes nos organismos vivos, notadamente nas cadeias de RNA e DNA.

Segundo um dos pesquisadores, John Baross, da Universidade de Washington, “a profundidade debaixo da superfície pode ter atuado como um laboratório natural da origem da vida no qual múltiplos experimentos naturais podem ter sido produzidos em dupla”. Um desses “experimentos” químicos que podem ter se processado há cerca de 4 bilhões de aos é o que a equipe científica está chamando de processo de “serpentinização”, uma teoria alternativa sobre a origem da vida na Terra.

Segundo essa teoria, a rocha basáltica expelida por vulcões subterrâneos reage quimicamente com a água de mar, o que produz hidrogênio e o mineral “serpentine”. De acordo com os cientistas do DCO, o hidrogênio gerado por este processo pode ter sido o alimento que permitiu a aparição dos primeiros micróbios na Terra. Mas não na superfície e sim em grandes profundidades.

O diretor-executivo do DCO e cientista da Instituição Carnegie, Robert Hazen afirma que “em qualquer lugar do mundo, se você perfura a vários quilômetros, encontrará vida em forma de micróbios”. A variedade de vida bacteriana que se encontra em grandes profundidades e com pressões extremas constitui um autêntico Galápagos das profundezas”.

Outro pesquisador ligado ao DCO, Steven D’Hondt, da Universidade de Rhode Island, afirmou que esses micróbios “levam pelo menos centenas de milhares de anos para se reproduzir, e é concebível que vivam sem se dividir durante dezenas de milhões de anos. São zumbis microbiais. Hazen vai mais além que Hondt e lembra que há alguns cientistas assegurando que há micróbios com centenas de milhões de anos de idade, que viveram em um estado estático, sem se dividir, em pequenos buracos nas rochas, e quando foram expostos a um ambiente mais dinâmico, começaram a se dividir”.

“É realmente extraordinário. Porque se a vida pode se manter passiva durante grandes períodos de tempo, é provável que meteoritos levem micróbios de um planeta a outro. Isso pode ser uma forma de movimentar vida entre planetas”, declarou Hazen. Não é preciso nem dizer que as novas descobertas animaram não só os estudiosos de micro-organismos ou da evolução da vida, como também os astrobiólogos de plantão, especialmente os que já trabalhavam com hipótese semelhante a essa.

A lignita é uma das formas do chamado carvão mineral, geralmente preservando algumas características físicas do vegetal de que se originou Imagem: Theodore Gray  
O lignito é uma das formas do chamado carvão mineral, geralmente preservando algumas características físicas do vegetal de que se originou Imagem: Theodore Gray

O que é o DCO?

O Deep Carbon Observatory, ou DCO, amplo programa de pesquisa sobre o carbono, começou há três anos e culminou na terça-feira (5) com a publicação de um volume de 700 páginas que contém as principais descobertas feitas pelo grupo internacional, assim como as novas incógnitas geradas pelo trabalho de cerca de mil cientistas de 40 países.

Um dos principais objetivos do programa, que tem um orçamento de US$ 500 milhões, é saber com exatidão quanto carbono está armazenado nas profundezas da Terra e onde. ”Estamos interessados em saber quanto carbono há, onde está, como se movimenta de uma parte a outra do planeta, quais são suas formas, estamos muito interessados no fenômeno da vida microbial em grandes profundidades e como afeta o ciclo do carbono”, declarou Hazen.

“É realmente um esforço para entender o carbono em escala global, da superfície ao centro da Terra, não só o ciclo do carbono mais superficial e do qual a maioria das pessoas fala, mas um ciclo mais profundo que representa 90%, ou mais, do carbono em nosso planeta”. Esse é o elemento químico mais importante. É o elemento da vida, o que deu origem à vida. É um dos aspectos que estamos tentando entender, de onde veio a vida”, acrescentou o pesquisador.

Algumas das descobertas mais fascinantes que foram reveladas pelo DCO são precisamente as que dizem respeito à relação entre a vida e carbono. As conclusões dos primeiros anos do programa e detalhes dos próximos sete anos de atuações previstos  estão sendo discutidos em uma conferência internacional na Academia Nacional de Ciências em Washington. Por exemplo, a de que há 4 bilhões de anos os processos biológicos produzidos por micróbios começaram a alterar a mineralogia da Terra, criando minerais que nunca teriam existido no planeta sem a presença da vida.

Outra descoberta paralela do DCO foi a de que há vírus em grandes profundidades no interior da Terra atuando de forma diferente dos vírus da superfície: seu material genético é transferido de forma passiva ao genoma de bactérias e pode permanecer durante uma infinidade de anos sem se manifestar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário