A Secretaria da Saúde admite que dos 1.260 óbitos infantis de 2012, no Estado, 892 foram por causas evitáveis
O Ceará vem conseguindo reduzir os índices de mortalidade infantil - entre os nascidos vivos durante o primeiro ano de vida. Entre 1997 e 2011, houve queda de 61% da taxa de mortalidade, que passou de 31,6 óbitos a cada mil nascidos vivos em 1997, para 12,3 em 2011. No Brasil, a tendência de diminuição é a mesma. Enquanto em 1997, a média era de 58 mortes para cada mil bebês nascidos vivos, em 2011essa taxa reduziu para 16,1. Chama atenção, entretanto, o expressivo número de óbitos infantis por causas evitáveis no Ceará.
A ausência ou poucas consultas de pré-natal, desnutrição, infecção, hipertensão e hemorragias da mãe podem gerar a morte de bebês FOTO: KID JÚNIOR
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), dos 1.260 óbitos infantis registrados no ano passado, 892 foram por causas evitáveis (70,8%). Índice superior ao nacional. Os dados apontam que das 29.771 mortes infantis registradas em 2012, 20.366 (68,4%) foram por causas evitáveis. Destes, 58,4% (11.894) notificados em 30 dias.
Observa-se também uma mudança no perfil da causa dos óbitos infantis. Até o fim da década de 1980, prevaleciam no Brasil as mortes pós-neonatal, ou seja, em bebês de 28 a 364 dias de vida. A partir daí, começaram a predominar os óbitos neonatais - em crianças menores de 28 dias de vida. Enquanto de 1997 a 2011, a taxa de mortalidade infantil pós-neonatal no Ceará caiu de 15,8 para 3,6, a taxa de mortalidade neonatal reduziu de 15,8 para 8,7.
Vários fatores contribuem para esse alto índice de óbitos por causas evitáveis no período neonatal. Entre eles, a ausência ou poucas consultas de pré-natal, desnutrição, infecção, hipertensão e hemorragias da mãe e outras que ocasionem partos prematuros e crianças com baixo peso ao nascer, o que pode levar a complicações no pós-parto imediato. Além disso, as anomalias congênitas podem ser muito graves neste período de vida.
Se a criança completa o primeiro mês de vida, entra no período pós-neonatal. A partir de então, ela fica mais exposta a agressões do ambiente e propícia a adquirir doenças respiratórias, principalmente a pneumonia, e gastrointestinais, como a diarreia, além de outras doenças transmissíveis, algumas das quais podem ser prevenidas pelo uso de vacinas.
Deficiência
Zenilda Bruno, obstetra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), comenta que a mortalidade infantil no Ceará diminuiu na criança maior de um ano. Porém, na idade neonatal, principalmente na neonatal precoce (em menores de sete dias), a situação se mantém. Para a especialista, essa realidade é reflexo da deficiência da qualidade do pré-natal que vem sendo realizado, o que leva ao parto prematuro e a criança de baixo peso. "Esta criança pré-matura é muito mais vulnerável à infecções e insuficiência respiratória. A causa da prematuridade é multifatorial, porém sabemos que o pré-natal de qualidade pode diminuir esta incidência", salienta.
A especialista acrescenta que a superlotação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais é consequência da alta taxa de partos prematuros, levando bebês a estados graves e, consequentemente, a um maior índice de mortalidade. Quando se fala em mortes evitáveis, ressalta Zenilda, se diz que, se houvesse um pré-natal de melhor qualidade, esses óbitos poderiam ser evitados. "Um maior número de UTI neonatal poderia minimizar essa mortalidade", afirma.
Capital
Em Fortaleza, o número de bebês que nascem prematuramente só cresce a cada ano. Foram 3.616 em 2011, passando para 4.263 no ano passado, o que representa aumento de 9,6% do total de nascidos vivos para 12,4%. Em todo o Estado, o índice foi ainda maior. Subiu de 9,5% (12.193) em 2011, para 11,7% (14.503) em 2012, conforme informações da Sesa.
O secretário da Saúde do Ceará, Arruda Bastos, diz que, para reduzir o índice de mortalidade neonatal, o governo está estruturando o Estado, principalmente o Interior, para que a atenção neonatal seja feita com mais especialidade. "Estamos ampliando a rede de hospitais, policlínicas e a cobertura de pré-natal na atenção básica. Para isso, estamos exigindo que os municípios tenham maior cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) e realizem, no mínimo, quatro consultas em 90% das gestantes durante o pré-natal".
Ele destaca que o Ceará é o Estado que mais reduziu a mortalidade infantil no País e adianta que, nos próximos anos, dará um salto maior, saindo da taxa de 12,3 para menos de 10 óbitos.
LUANA LIMA
REPÓRTER
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