Desarmamento, a proporção de famílias brasileiras armadas caiu 35% em seis anos
A compra anual de armas de fogo no País caiu de 57 mil para 37 mil (40,6%) nos últimos seis anos, após a promulgação do Estatuto do Desarmamento, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas, se há motivo de comemoração em âmbito nacional, o Ceará amarga tristes resultados: é hoje o Estado que teve uma pior redução (6,32%); a unidade da Federação em que a Campanha teria tido ainda um menor impacto.
Levantamento da Rede Desarma Brasil mostra o Ceará no 19º lugar no ranking nacional de entrega voluntária de armas Foto: Fabiane de`Paula
Conforme o relatório "Impactos do Estudo do Desarmamento sobre Demanda Pessoal por Armas de Fogo", o Estado teve resultado insatisfatório no ranking nacional no que se refere à queda controlada de armas legais de fogo. De acordo com o estudo, foi um dos estados que registrou menor queda. Em termos gerais, a compra anual pelas famílias brasileiras caiu, mas os gastos com munição cresceram 11%.
A pesquisa tem como base São Paulo (com índice 1) e classifica o Ceará na pior posição com relação à redução (6,32%). O Paraná traz índices altos a respeito da insuficiência da queda (4,8); seguido do Espírito Santo (3,47), Rio Grande do Sul (3,29), Amazonas (2,92), Minas Gerais (2,76), Paraíba (2,3%), Roraima (1,42), Santa Catarina (1,41), Maranhão (1,22), São Paulo (1), Pernambuco (0,84), Piauí (0,83) e a Bahia (0,63).
Os cálculos foram feitos baseados em dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2003, antes do estatuto, e 2009, seis anos após a implantação. Neste período, 48 mil domicílios foram pesquisados em cada ano do levantamento. Em 2013, a lei completa 10 anos. O Ipea se baseia em informações das Pesquisas de Orçamentos Familiares, do IBGE realizadas nesses anos.
A pesquisa foi apresentada ontem, data em que se lembra os dois anos do massacre de 12 alunos de uma escola municipal em Realengo, na zona oeste do Rio.
Perigos
Um outro estudo que revela como a Campanha do Desarmamento ainda não "deslanchou" no Ceará é o recente levantamento elaborado pela Rede Desarma Brasil - Segurança, Justiça e Paz, que reune mais de 50 organizações em prol do controle de armas no País. Nele, o Ceará ocupa o 19º lugar no ranking nacional de entrega voluntária de armas de fogo de pequeno porte. Isso representa apenas 1,5% dos 62.098 objetos recebidos em todo o Brasil. De 2005 até fevereiro deste ano, o Estado recebeu apenas 26 mil armas de fogo.
"Esse número é muito baixo ainda. Temos, hoje, pelo menos 248 mil armas circulando no Ceará, 50% delas irregulares. Apenas 983 foram entregues", afirma Duda Quadros, atual coordenador regional de mobilização pela campanha no Ceará.
Ainda segundo ele, o cenário é crítico: 48% das armas não possuem registro, 88% são revólveres e pistolas e 80% dos assassinatos são cometidos com eles.
Para Quadros, a situação é muito preocupante no Ceará. A campanha segue ainda muito sem "energia" no Estado, sem apoio da sociedade civil e sem ânimo, motivação do poder público. "Daí não termos quedas tão significativas nas compras e entregas voluntárias, que deveriam ser maiores. Falta, sim, um maior diálogo com a população, um convencimento da importância desse gesto", detalha.
Nesse sentido é crescente também a produção e o "aquecimento" da indústria de armas no País. Atualmente, conforme o próprio coordenador, o Brasil é o 4ª maior exportador do mundo em vendas de armas. Nos últimos três anos, por exemplo, os investimentos foram US$ 350 milhões de dólares. "O pior é ver todo esse comércio agir desregulado, sem controle algum", diz.
Ainda de acordo com o estudo do Ipea, outro ponto de resistência ao estatuto está no crescimento de vendas da Região Sul, que teve um aumento de 21%, diferentemente de outras regiões do País, que apresentaram queda nessas tais compras.
O Ceará conta com mais de seis postos de coleta para todo o Estado, sendo dois principais em Fortaleza, um na Superintendência da Polícia Rodoviária Federal no Ceará (BR-116, km 6) e outro no 6º Batalhão de Polícia Militar (Avenida da Penetração Oeste, 1.020, no Conjunto Esperança).
A equipe de reportagem tentou contato telefônico por inúmeras vezes, ontem à noite, com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), mas não obteve retorno algum das ligações feitas para o órgão.
Cenário
1,5% das 62.098 armas de fogo recolhidas no Brasil são do Ceará segundo levantamento da Rede Desarma Brasil.
48% das armas do Estado não têm registro, segundo o coordenador de mobilização pela Campanha do Desarmamento no Ceará.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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