Apesar de liderar a alta de preços em 12 meses, na Capital os 4 novos itens desonerados estão desacelerando
Um mês depois de o governo federal ter anunciado desonerações fiscais que zeraram as contribuições para todos os produtos da cesta básica, os índices que revelam os preços de tais itens em Fortaleza ainda são alarmantes. Conforme levantamento divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fortaleza agora é a líder no ranking que lista as cidades com maiores altas nos últimos 12 meses, com uma variação de 32,78% no período, quase o dobro do verificado em todo o ano de 2012: 17,46% (também o maior do País para a época).
Por outro lado, os cortes de tributos já começam a dar seus primeiros sinais de influência no bolso do fortalezense, tendo em vista os dados referentes somente ao mês de março, o primeiro após a medida. Em Fortaleza, a alta da cesta no mês foi de 1,34% sobre fevereiro (salto de R$276,98 para R$ 280,69), uma significativa desaceleração, já que, em janeiro e fevereiro, os aumentos foram de 2,19% e 7,22%, respectivamente.
A explicação se confirma quando verificado que, dos cinco alimentos que sofreram desoneração recentemente, quatro apresentaram queda de preços na Capital: carnes (-0,61%), óleo (-0,56%), manteiga (-0,44%) e café (-0,24%). A exceção ficou por conta do açúcar, que se manteve estável. Vale lembrar que os outros itens da cesta não entraram na medida porque já não possuíam mais incidência de impostos. Mesmo assim, um deles, o tomate, que ganhou bastante repercussão por ser um dos principais vilões da inflação nos últimos meses, recuou 5,35% em Fortaleza.
"Nós podemos afirmar que tais reduções serviram para atenuar a inflação, mas não foram suficientes para anulá-la, tendo em vista que a seca continua provocando alta em produtos como o feijão (11,65%), a farinha (9,94%) e a banana (8,55%), os principais vilões", avalia Bruna Frazão, economista do Dieese.
A analista acrescenta que os elevados aumentos dos meses anteriores também servem para entender a desaceleração dos preços da cesta básica. "A inflação estava em um patamar tão alto, que não tinha como subir muito mais do que 1,34%. Desde dezembro do ano passado, já são quatro meses seguidos de avanço dos preços frente a estiagem", lamenta. As desonerações fiscais e os últimos aumentos, apesar de também serem fatores válidos em praticamente todo o País, foram responsáveis por colocar Fortaleza na 12ª posição no ranking (entre 18 capitais) das maiores altas da cesta em março. Em fevereiro, a Capital ocupava a 2ª colocação.
Nordeste em evidência
No entanto, os mesmos fatores não conseguiram evitar que a cidade chegasse à liderança na lista que considera os últimos 12 meses. No mesmo ranking, as seis capitais nordestinas que participam do levantamento ficaram entre as primeiras, o que significa forte influência da estiagem no setor produtivo.
Salvador (BA), com uma inflação de 32,63%, é a vice-líder. Com 28,08% de aumento dos preços, João Pessoa (PB) ocupa a terceira posição. Aracaju (SE) vem em seguida, com 27,82%. Natal (RN) é a sétima, com 27,51%, e Recife (PE) é a oitava, com uma elevação de 25,51%.
Horas de trabalho
Considerando os R$ 280,69 que agora são necessários para comprar uma cesta básica e tomando com base o salário mínimo vigente no País (R$ 678), pode-se dizer que um brasileiro precisaria trabalhar 91 horas e cinco minutos para conseguir comprá-la. Em fevereiro, o cálculo apontava 89 horas e 53 minutos de trabalho. Com os novos dados, o Dieese calculou que o gasto com alimentação para um família padrão, com dois adultos e duas crianças, é de R$ 842,07.
Salário necessário
Em março deste ano, o menor salário pago a um trabalhador deveria ser de R$ 2.824,92 para suprir as despesas de um trabalhador, segundo o Dieese. Quando se compara o custo da cesta em Fortaleza e o salário mínimo líquido, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em março, 45% da sua renda mensal.
Apenas cinco capitais registraram percentual inferior: Recife (PE), com 44,89%, Natal (RN), com 44,77%, Campo Grande (MS), com 44,32%, João Pessoa (PB), com 44,03%, e Aracaju (SE), com 39,43%.
impacto
"Nós podemos afirmar que as desonerações fiscais serviram para atenuar a inflação, mas não para anulá-la"
Bruna Frazão
Economista do Dieese
No mês
No mês
1,34 por cento foi o quanto aumentou, de fevereiro para março, o preço da cesta em Fortaleza
Queda de preços aquém do esperado
São Paulo. Passado um mês do anúncio da desoneração dos preços da cesta básica, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, manteve sua avaliação de que ainda é difícil perceber efeitos relevantes sobre os preço da medida, que parece não estar sendo repassada integralmente pelos fabricantes.
"A maioria dos itens está caindo, mas, mesmo creditando as quedas à desoneração, ainda assim, o fato é que um mês depois, em termos quantitativos, estamos muito aquém do que seriam as reduções se tivéssemos tido repasse integral", afirmou. Picchetti citou o caso do óleo de soja, que recuou 3,68% na primeira semana de abril, nem metade do repasse integral da desoneração (9,25%).
No dia 8 de março, a presidente Dilma Rousseff anunciou a redução do PIS/Cofins de 9,25% para zero das carnes, café, óleo, manteiga, açúcar e papel higiênico. A pasta de dente e o sabonete, que eram tributados em 12,5%, também tiveram alíquota de PIS/Cofins zerada. No caso do açúcar e sabonete, o IPI caiu de 5% para zero.
E, como alguns produtos já vinham com tendência de queda antes da medida, "é difícil separar o que é desoneração e o que é fundamento", afirmou o economista, citando como exemplo os preços de carnes bovinas e óleo de soja. Carnes estão em deflação refletindo o aumento recente da oferta, enquanto no óleo, a trajetória acompanha a queda dos preços do grão no atacado.
De acordo com Picchetti, o caso mais grave é o do sabonete. "É o pior de todos porque já vinha aumentando e agora acelerou", disse. Segundo Picchetti, os preços do produto subiam 0,29% na segunda semana de março, e agora, um mês depois, têm alta de 0,97%.
"Parece haver uma negociação entre os elos da cadeia com alguns setores afirmando que vão recompor margens de lucros, mas o fato é que essa redução não está chegando", insistiu.
Outro exemplo é pasta de dente, que à época do anúncio da medida do governo cedia -2,27% e atualmente reduziu a deflação para -1,18%. Já papel higiênico, segundo o economista, subia 0,86% e agora mostra baixa de 1%.
Tendência
Apontado como um dos vilões da inflação, o preço do tomate tende a cair em maio, com a chegada ao mercado da safra de inverno. A previsão é do analista Fabrício Quinalia Zagati, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), que tem uma equipe dedicada ao acompanhamento diário do mercado brasileiro dos produtos hortifrutícolas. Com o pico de produção da safra de inverno do fruto entre maio e junho, o consumidor deve pagar menos pelo produto nos próximos meses, aliviando a pressão sobre a inflação.
Na opinião de Zagati, apontar o tomate como o "vilão da inflação" é uma injustiça com o agricultor, pois em abril do ano passado o preço do fruto na roça era de R$ 12 a caixa de 22 quilos. O valor era insuficiente para cobrir o custo de produção. Ele argumenta que o produtor neste ano chegou a receber R$ 100 pela caixa de tomate justamente por causa do desestímulo provocado pelos baixos preços do ano passado, que levaram a uma redução de 20% na área da safra de verão, que foi plantada no segundo semestre e colhida a partir de dezembro de 2012.
O analista afirmou que nos contatos diários com as fontes de mercado o Cepea apurou que, mesmo com os altos preços do tomate nos primeiros quatro meses deste ano, a expansão da área não deve ser expressiva no plantio de inverno, por temor de que o excesso de oferta volte a pressionar os preços.
Exorbitância
4,07 reais é o preço do quilo do tomate no mês de março em Fortaleza, segundo o Dieese. O valor tende a cair em maio.
Aposta em IPCA menor em 2013
Brasília. A projeção de inflação medida pelo IPCA para 2013 recuou de 5,71% para 5,70%, segundo pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central. Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,82%. Para 2014, a projeção subiu pela quarta semana consecutiva, de 5,68% para 5,70%. Há quatro semanas, estava em 5,50%.
A projeção de alta da inflação para os próximos 12 meses segue em 5,43%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 5,51%. Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da Focus, a previsão para o IPCA em 2013 no cenário de médio prazo subiu de 5,79% para 5,84%. Para 2014, a previsão dos cinco analistas segue em 6,05% pela quarta semana. Há um mês, o grupo apostava em altas de 5,81% e de 6,05% para cada ano, respectivamente.
Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em março de 2013 segue em 0,50%, acima do 0,45% previsto há quatro semanas. Para abril de 2013, segue em 0,40%. Há quatro semanas, estava em 0,50%.
Expectativa para Selic
Os economistas consultados na pesquisa mantiveram a previsão para a taxa básica de juros (Selic) no fim de 2013 em 8,50% ao ano. Para o fim de 2014, a mediana das projeções também segue em 8,50% ao ano. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 8,00% e 8,25% ao ano.
A projeção para a reunião do Copom de abril segue em 7,25% ao ano, indicando estabilidade. A projeção para Selic média em 2013 caiu de 7,83% para 7,81% ao ano, ante 7,39% há quatro semanas. Para 2014, segue em 8,50% ao ano, ante 8,38% há quatro semanas.
Nas previsões do chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para a Selic no fim de 2013 no cenário de médio prazo caiu de 8,50% para 8,25% ao ano. Para o fim de 2014, segue em 8,50% ao ano.

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