A instituição tem a preocupação de mostrar aos jovens a importância
da manutenção do bioma que é exclusivo do nosso Semiárido e que está
sendo ameaçado pelas queimadas e desmatamentos
Petrolina (PE). A Embrapa Semiárido, cuja sede se localiza em Petrolina, a 730 quilômetros de Recife, conta com 80 pesquisadores nas áreas de Recursos Naturais do Semiárido, Agricultura e Pecuária Dependentes de Chuva e Agricultura Irrigada, pois já foi um polo diversificado e hoje está concentrado em frutas, tendo como carro-chefe a manga e a uva.
Estudantes de diversas instituições visitam a trilha mantida pela Embrapa Fotos: Cid Barbosa
O órgão tem, dentre outros objetivos, trabalhar pela preservação do bioma Caatinga. Nesse sentido, mantém uma trilha ecológica que funciona como laboratório para mostrar aos seus visitantes os principais elementos formadores da Caatinga encontrada exclusivamente no Semiárido brasileiro. Diariamente, delegações de estudantes de escolas e universidades nordestinas chegam para ter contato com alguns dos 300 exemplares de plantas endêmicas do bioma.
A favela (Cnidoscolus phyllacanthus) é uma delas. Segundo um dos pesquisadores da instituição, Iedo Sá, trata-se de uma planta que pode deixar o sujeito "empolado". Por isso, não é aconselhável que sejam cultivadas próximas às residências. "Entretanto, é excelente forrageira depois que suas folhas caem".
A torre meteorológica da Embrapa Semiárido, de 16 metros de altura, é capaz de mensurar a quantidade de carbono que a Caatinga pode sequestrar
Outras espécies que servem como forrageiras existentes ali são a quebra-faca (Croton conduplicatus) e espécies de catingueira. Iedo lembra que o solo é o substrato de onde saem as plantações e a Caatinga. "Portanto, é fundamental manter-se a cobertura vegetal. Se ela for retirada, o solo fica exposto à insolação, aos ventos e às chuvas que acabarão por contribuir para a degradação do ambiente".
Iedo ressalta que o problema das chuvas no Semiárido diz respeito à irregularidade nas precipitações. "Por aqui em Petrolina chega a chover 400 milímetros por ano, o que é um percentual razoável. Porém, desse total, a metade cai numa só semana, proporcionando compactação e erosão no solo, levando a matéria orgânica responsável por reger a atividade biológica e também por reter a água no subsolo".
Tiro no pé
Na prática, conforme Iedo, "o que acontece é que os agricultores, sem capital, derrubam a mata e fazem a queimada para ter a possibilidade de realizar o plantio. "É um erro imperdoável. A primeira safra vem bonita. Ocorre que, já a partir do segundo ano em que essa prática nociva se repete, o solo começa a empobrecer até ficar completamente morto, num processo conhecido como desertificação. É preciso que se entenda que mata é matéria orgânica. Queimá-la é dar um tiro no pé".
O pesquisador alerta para o risco de extinção de plantas, como a baraúna (Schinopsis brasiliensis), o umbuzeiro (Spondias tuberosa) e as aroeiras. "Elas são endêmicas da Caatinga. Se acabarem, não poderão ser recuperadas, já que não existem em outros biomas". Sobre o umbuzeiro, destaca a sua riqueza. "A raiz, chamada cuca, é uma espécie de caderneta de poupança. Acumula água e nutrientes no período chuvoso para utilizá-los durante a seca. Ocorre que essa mesma raiz está sendo extraída para a feitura de doces e licores".
"É uma bela iniciativa a manutenção dessa trilha. Embora pequena - cerca de um hectare - serve para mantermos contato com o bioma da nossa gente", diz Igor Almeida Filho, aluno da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Torre meteorológica
Desde o fim de 2010, a Embrapa Semiárido utiliza uma torre meteorológica de 16 metros para monitorar uma área de 600 hectares de Caatinga que vem sendo preservada há 40 anos sem a presença de animais e do ser humano. Em parceria com órgãos como CNPq, Inpe, Finep, Itep e IPA, o órgão estuda as reações do bioma e a sua contribuição para o meio ambiente. A pesquisadora Magna Soelma Beserra de Moura explica que o equipamento é capaz de medir a quantidade de carbono sequestrado pela área, a quantidade de vapor d´água e os componentes do balanço de radiação e energia. Um novo equipamento permitirá que as espécies sejam fotografadas de hora em hora.
FERNANDO MAIA
REPÓRTER
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