Rita
Funcionária pública de 61 anos, Rita nasceu em Nova Russas e se trata em Fortaleza. Supera o câncer de mama com fé e desejo de viver
Desconheço o significado formal do substantivo Rita. Mas, nesta história, Rita é sinônimo de força e resistência. A Rita que conto nasceu 61 anos atrás em Nova Russas, cidade a 316 quilômetros e seis horas de distância de Fortaleza. Batizada Rita Alves Pereira, a senhora parece ter nascido para ser colocada à prova. O último teste começou cerca de dois anos atrás e ainda corre. Nódulos sentidos pelo toque cresciam no seio esquerdo da funcionária pública: Rita estava com câncer de mama.
Para chegar ao diagnóstico, porém, algumas distâncias precisaram ser percorridas. A primeira, ela conta, a distância para o serviço de saúde: não havia exame disponível em Nova Russas quando Rita precisava. Sem querer deixar o tempo encompridar a dúvida, foi para Crateús e desembolsou R$ 200 para ser examinada. Com o resultado da análise e a indicação de uma amiga, encarou mais estrada. Porque não há médico especialista em Nova Russas. “Só tem consulta simples”, explica. Assim, seguiu para o Instituto do Câncer do Ceará (ICC), na Capital, onde a doença foi diagnosticada e o tratamento é feito - sempre seguindo a romaria Nova Russas-Fortaleza pelo menos uma vez por mês. O combustível é a fé.
A estrada, na maioria das vezes, é encarada sozinha por Rita. Ela mora só desde que o último marido a deixou. O homem, que se separou tirando a companheira do plano de saúde, a extorquia e apregoava que Rita ia morrer. “Eu fiquei com problema de pressão alta por causa dele. Mas eu tenho Deus. Meu plano maior é aquele lá”, reconhece Rita.
Antes desse casamento de 14 anos, as provações de Rita já tinham sido cruéis. O primeiro companheiro matou o pai dela por desentendimentos no trabalho no campo; um dos filhos morreu em um acidente de trânsito aos 15 anos, da mesma forma que morreu um dos irmãos dela; além disso, um mioma exigiu a retirada do útero e, antes dos tumores malignos, dois nódulos já haviam sido extraídos do seio esquerdo. “Isso atraiu tudo isso aqui”, crê Rita, apontando para o local onde hoje o sutiã guarda uma prótese.
Mas não há tristeza nas palavras da senhora. Mesmo longe de casa e com o cabelo crescendo “pixaim”, como define, a alegria da vida é maior que qualquer dor do passado. “Nunca me revoltei com ninguém, nunca pensei em morrer. Sempre tive fé em Deus. Tinha dia que dava um baixo astral, perguntava ‘Ave Maria, será que eu vou até o dia de amanhã?’. Mas tenho fé em Deus que vou passar desta”, sorri. Mais que “passar desta”, Rita quer alertar as mulheres sobre a necessidade de se cuidar. “É um caminho muito difícil, mas a gente vai tentando e vai vencendo”, ensina.
Por causa da força com que enfrenta o tratamento, conta, com orgulho, ser elogiada pelos médicos do ICC e diz receber muito carinho e atenção na Casa Vida, residência de apoio do hospital, onde fica todas as vezes que segue para se tratar. Está lá nestes dias de outubro para as sessões de fisioterapia - necessárias para dar fim à dor de alguns movimentos feitos com o braço esquerdo. Sonha voltar logo a visitar o filho e os netos no Rio de Janeiro. Rita quer ir para casa. “Pro futuro eu espero que venham coisas boas. O ruim já passou. Hoje me sinto uma heroína”.
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