Gaia Molinari foi assassinada na Praia de
Jericoacoara, no Ceará (Foto: Arquivo Pessoal)
Jericoacoara, no Ceará (Foto: Arquivo Pessoal)
A presa suspeita de participação na morte da turista italiana Gaia
Molinari não quis telefonar para a mãe, no Rio de Janeiro, segundo a
delegada responsável pelo caso, Patrícia Bezerra. "No dia da prisão
preventiva, ela estava com o celular apreendido, estava comigo. Ela
pediu para verificar dois números na agenda, de um amigo e da
orientadora no doutorado. Ela não quis telefonar para mãe, e a Polícia
Judiciária não tem gerência para quem a presa vai telefonar ou não",
afirmou a delegada na tarde desta segunda-feira (5).
Em entrevista ao Extra, a mãe da suspeita afirmou que tentava falar com
a filha, que estava com o celular desligado. O celular da carioca foi
apreendido em 26 de dezembro, dia em que a suspeita foi presa. De acordo
com o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Delci
Teixeira, a polícia cearense entrou em contato com a Secretaria de
Direitos Humanos do Rio de Janeiro para intermediar uma ligação da
carioca com a mãe nesta segunda-feira (5). "Foi combinado que a mãe dela
iria hoje à secretaria, às 11h, para, de lá, poder falar com a filha.
Ela acabou não comparecendo porque coincidentemente no mesmo horário o
advogado chamou a imprensa para uma coletiva", explicou o secretário.
A mãe e amigos da suspeita afirmam também que ela sofre racismo, motivo
que a levou à prisão. A polícia nega haver preconceito. "Estamos
procurando o culpado, e não algum culpado, independente da cor dele, da
condição social e da procedência." A delegada também diz que ela tem
acesso a todos os direitos previstos. "Ela está em uma cela separada dos
demais presos, nos exatos termos do que determina a lei brasileira, com
todos os seus direitos sendo integralmente respeitados."
Segundo a polícia, ela foi presa por se contradizer várias vezes
durante o depoimento. A delegada afirma que os horários e datas de
passeios da turista não conferem com informações das demais testemunhas.
Patrícia Bezerra diz ainda que, questionada sobre as contradições, ela
não soube se explicar.
O advogado da suspeita, Humberto Adami, afirma que não há justificativa
para a prisão. “Ela tem emprego fixo, estuda, tem endereço certo, não
foi presa em flagrante e apenas entrou em contradição, o que não
justifica estar presa.” O advogado afirmou que a contradição em um
depoimento não pode ser tratada como uma confissão de culpa. "As pessoas
também ficam apreensivas quando vão falar com a polícia. Ela também não
tinha um advogado ou um defensor público presente”, defende.
A delegada do caso afirmou que, assim que a carioca foi presa
preventivamente, informou a prisão à Justiça, à Defensoria Pública e ao
Ministério Público por ela não apresentar advogado. De acordo com a
Defensoria Pública do Ceará, uma comissão de defensores acompanha o
caso, coletou informações para a defesa da farmacêutica nesta
segunda-feira (5) e deverá entrar com o pedido de revogação da prisão
temporária dela até a terça-feira (6). Em nota, o órgão informou que a
suspeita presa expressou interesse em ser assistida pela instituição e
que os defensores têm contato direto com a mulher e as pessoas ligadas a
ela.
A polícia cearense segue trabalhando com duas linhas de investigação
sobre a motivação do homicídio: crime passional e uma segunda motivação
não informada pela delegada "para não atrapalhar as investigações". "As
investigações continuam. Vamos ouvir mais pessoas e realizar outras
diligências em Jericoacoara", disse a delegada. A responsável pelo caso
também afirmou que pretende realizar a reconstituição do crime ainda
neste mês.
Polícia divulga exame
A Polícia Civil divulgou nesta segunda-feira (5) o resultado de exame que negou a presença de sêmen no corpo da vítima. Os policiais investigam se Gaia foi abusada antes de ser assassinada. Segundo a delegada, a ausência de sêmen não anula a possibilidade de abusos.
De acordo com as investigações e testemunhas do local, a italiana tentou voltar para Fortaleza
um dia antes de morrer, no dia 23 de dezembro, e dizia não estar se
sentindo bem de saúde. Ela não conseguiu voltar por problemas na empresa
que realiza o transporte de passageiros. Gaia, então, manteve a
passagem para o dia 24 de dezembro no mesmo horário que voltaria a
carioca, mas não viajou. Segundo os depoimentos de testumunhas à
polícia, até agora, a última vez que Gaia foi vista foi às 18h30 do dia
24.
Segundo informações da Polícia Militar, o corpo da italiana foi
encontrado por outros turistas na área do Serrote no dia 25 de dezembro.
Os moradores de Jijoca de Jericoacoara
afirmam que a jovem estava em Jericoacoara acompanhada de uma amiga
carioca. Ambas deveriam ter deixado a cidade de Jijoca na quarta-feira
(24), mas Gaia Molinari não retornou do passeio na véspera do Natal. Ela
trabalhava em um hostel em Fortaleza em troca de hospedagem e viajava
por vários países, segundo pessoas que conheceram a vítima. No local,
conheceu a suspeita e seguiram para Jericoacoara.
De acordo com o laudo inicial da Perícia Civil, a turista italiana Gaia
Molinari foi morta por estrangulamento. Segundo o laudo cadavérico
divulgado pela polícia nesta segunda-feira (5), Gaia sofreu vários
golpes com um objeto contundente, e não cortante como foi informado
anteriormente, no corpo e no rosto antes de ser asfixiada.
Antes de ir para Jericoacoara, a italiana estava hospedada em um
albergue, em Fortaleza, desde o dia 16 de dezembro. No alberque, Gaia
conheceu a suspeita que a convidou para ir a Jericoacoara, segundo a
Polícia Civil. De acordo com funcionários do albergue, ela deixou alguns
objetos pessoais no local, como um computador e o passaporte.
Na manhã desta segunda-feira (5),
a mãe da suspeita afirmou em coletiva no Rio de Janeiro que a filha só
conheceu a turista italiana através de mensagens trocadas na internet.
Aos 63 anos, a moradora de Austin, na Baixada Fluminense, a mãe da
suspeita disse que se sentiu indisposta com o calor do verão e desistiu
de viajar com filha. A mãe, no entanto, disse que elas apenas trocaram
mensagens virtuais.
Delegada nega prisão por racismo contra suspeita de matar italiana
(Foto: Gabriela Alves/G1)
Fonte: G1/CE
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