Crise desestimula os empreendedores , após anos
seguidos de boa produtividade
Nova Olinda. A
comercialização da pedra Cariri teve uma queda de 50% no primeiro
semestre deste ano. Os mineradores sentem o impacto de um dos produtos
mais importantes da economia dos municípios de Santana do Cariri e Nova
Olinda, de onde é retirado o calcário laminado. O material passou a ser
bastante requisitado na construção civil, nas últimas décadas,
principalmente nos estados nordestinos. Os altos custos na extração do
produto têm desanimado os mineradores e muitos até pensam em desistir do
negócio, que a cada dia está ficando mais difícil manter
O setor da mineração é um dos
que mais emprega nas cidades que têm como base econômica a agricultura.
A maior parte das minas está localizada em Nova Olinda. Nas duas
cidades são mais de 2 mil famílias que sobrevivem da extração e
tratamento da pedra para a comercialização, mas poucas empresas
conseguiram se modernizar o suficiente para expandir o negócio. A
maioria se encontra nas mãos de familiares. O processo é rudimentar na
maioria das mineradoras e algumas delas funcionam de forma clandestina,
sem atender a todos os quesitos relacionados às licenças. Noutras, a
dificuldade de se manter com os custos trabalhistas é evidente e os
proprietários têm-se mantido no limite.
Uma das metas que vem sendo
perseguidas pelos mineradores, principalmente os que mais conseguiram
avançar em termos de qualidade de processamento do produto, é atingir o
mercado externo.
Países da Europa tem sido um dos
focos da comercialização, a exemplo da Espanha e Portugal. A primeira
remessa do produto enviado para análise de alguns compradores europeus
não obteve sucesso. Por ser uma pedra fria, é mais adaptável ao clima
tropical. Essa foi a constatação inicial, segundo o empresário e
presidente da Cooperativa de Mineração dos Produtores da Pedra Cariri
(Coopedras), Idemar Alves de Alencar. A entidade possui cerca de 20
integrantes e sede em Nova Olinda.
Absorção
O empresário detém uma força
produtiva com cerca de 90 funcionários em sua empresa e mina de
extração. Quando iniciou no ramo, em 1985, havia apenas uma unidade na
cidade. É um dos poucos que trabalha com a pedra calibrada, num tamanho
uniforme, mas que chega a ficar com preços acima do porcelanato,
comercializado no mercado. Mas, no mercado interno, conforme o
empresário, há uma boa absorção do produto.
Há vários anos, Idemar tem
focado as suas vendas para estados como Alagoas, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Pará, Maranhão, Piauí e o Pernambuco, sem falar no mercado do
interior cearense. Já para estados do Sudeste, como o Rio de janeiro e
São Paulo, a venda acontece apenas de forma direta.
Segundo o empresário, está cada
vez mais difícil extrair a pedra. Antes era possível com um palmo de
terra chegar ao calcário. Agora é preciso escavar cerca de 18
metros.
Segundo Idemar, muitas
pessoas que atualmente estão no ramo não têm condições de
sobreviver.Para chegar a realizar esse trabalho, os mineradores têm que
obter a liberação da mina, que envolve diversos quesitos na área
ambiental, com órgãos do setor, além de passar pelo rigor de
fiscalização e as exigências do Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), que vai ao local fiscalizar.
Mas dentro dessa realidade árdua
do trabalho de extração do calcário, além de existir uma matéria-prima
que passou a ser uma das principais alternativas econômicas de Nova
Olinda e Santana do Cariri, há o fóssil, que já foi em quantidade bem
maior, e ainda existe em grande número nos lugares onde há a extração do
calcário laminado. Muito desse material de valor científico já se
perdeu e continua se perdendo, mesmo por ser a maior parte de achados
comuns, como os peixes fossilizados.
O empresário Marcos Aurélio Alves
de Matos afirma que já chegou a exportar a pedra em pequena quantidade,
para países como os Estados Unidos, Itália e Portugal, mas a burocracia e
o alto custo para levar o produto para o mercado externo foram
desestimulantes.
Aurélio vende dois tipos de
pedras, que inclui a de melhor qualidade num tom cinza, de R$ 10,00 o
metro quadrado, e amarela, de R$ 8,00, mais aceita pelo comprador de
outros estados do Nordeste. Para ele, há um destaque importante da pedra
Cariri para a economia regional.
Dos meses de dezembro até
maio há a paralisação nas mineradoras, com a retomada em junho. Com
isso, os produtores atuam no sentido de permanecer com um bom estoque
para a comercialização por todo o ano. Somente em Nova Olinda são cerca
de 1.400 pessoas trabalhando nas mais de 30 minas existentes na cidade.
Para Aurélio, nos tempos atuais há uma estabilidade no setor, sem
abertura de novas minas.
Dificuldades
Para o chefe do DNPM, escritório
de Crato, Artur Andrade, é praticamente impossível haver uma
fiscalização efetivamente de 100% das áreas de extração, fazendo que com
que não passe nem um tipo de fóssil.
Para a mina funcionar na cidade
passa por licenças também da própria localidade, além dos estudos e
fiscalização do DNPM. "Esse material pode tecnicamente ser considerado
calcário, mas é diferenciado, por poder conter resquício de uma vida
passada", afirma Andrade. O órgão atua com técnicos até duas vezes por
mês em mineradoras onde é separado material, para avaliar se há
fósseis.
Outra grande preocupação não
apenas dos donos das minas, mas dos órgãos ambientais, é quanto ao
rejeito do material que é descartado. Boa parte é jogada em áreas
próximas das estradas. A fábrica de cimento no município de Barbalha
também tem aproveitado o produto, embora a indústria já tenha área
requerida de mineração. Mesmo sem poder dar uma cobertura total, o chefe
do escritório do DNPM diz que há 10 ou até 20 anos era bem mais fácil
encontrar os fósseis nos locais. Se registra na atualidade uma grande
redução dos achados.
Fonte: Diário do Nordeste.
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