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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Capital perde roteiro de passeios por igrejas

Projeto gratuito levava turistas e moradores a prédios religiosos; proposta tenta reativar a iniciativa

Moradores e visitantes da Capital não contam mais com o Projeto Circuitos Turísticos Religiosos de Fortaleza, que oferecia gratuitamente dois roteiros de passeios pelos monumentos locais relacionados à fé cristã. Lançada pela Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) em dezembro de 2011, a tentativa de alavancar os prédios religiosos a pontos turísticos, destacando a relevância histórica, teve apenas 30 sessões, e terminou em 2012.

Uma das possíveis relações etimológicas da palavra "religião" vem do termo em latim "religare", que traduz o sentimento de religar os homens à Deus. Os monumentos religiosos de Fortaleza, no entanto, também são uma forma de religar os cidadãos à história da Capital.

Um dos idealizadores do projeto, o turismólogo e educador Gerson Linhares, afirma que já existe um projeto na Câmara Municipal, defendido pelo vereador Walter Cavalcante (PMDB), para reativar os roteiros religiosos na Capital. "Fortaleza possui uma grande riqueza memorial dentro das suas igrejas e demais monumentos religiosos. Apresentei 20 possibilidades de roteiros que passam não só por igrejas, mas também por capelas, colégios, seminários e mosteiros que têm grande importância histórica para a Cidade", conta Gerson Linhares.

Preservação

Sobre a preservação dos monumentos religiosos, que poderiam alavancar uma opção de turismo religioso em Fortaleza, Linhares enfatiza o êxito do Projeto Circuito Religioso.

"Fizemos 30 sessões dos roteiros e todas elas alcançaram o limite máximo de pessoas. Além disso, o grupo era bastante dividido, composto tanto por habitantes da Cidade como por turistas, portanto, é possível fomentar esse tipo de turismo em Fortaleza", analisa. Para a implantação do projeto, entretanto, é necessário observar o estado de conservação dos monumentos. Na opinião do turismólogo, as igrejas e capelas de Fortaleza são, em geral, bem conservadas, e o trabalho dos párocos é um dos principais motivos pelos quais esses templos têm as estruturas bem cuidadas.

Ele observa, entretanto, que o excesso de reformas muitas vezes sobrepõe-se às características originais dos ambientes. "Lamento, por exemplo, a demolição da antiga Igreja da Sé, que deu espaço à atual Catedral Metropolitana de Fortaleza. Foi uma perda memorial grande. Acredito que a igreja que conserva mais traços originais é a do Pequeno Grande", conta, referindo-se à construção de estilo neogótico de 1903.

A reportagem do Diário do Nordeste visitou quatro templos de Fortaleza, para conferir as condições estruturais dos prédios. Embora domingo seja o dia sagrado da tradição católica, os espaços visitados encontravam-se fechados. Transeuntes afirmam que os ambientes só funcionam nos horários de missa e, logo em seguida, são trancados.

Na Igreja do Rosário, localizada na Praça dos Leões e a mais antiga de Fortaleza, erigida em 1730, chama atenção o odor de urina e fezes no entorno, deixadas por pessoas em situação de rua que frequentam a praça. Um dos vidros frontais da estrutura encontra-se quebrado.

As igrejas do Pequeno Grande, na Av. Santos Dumont, de Nossa Senhora da Saúde, no Mucuripe, e a Capela Nossa Senhora dos Navegantes, na Av. Filomeno Gomes, apresentam fachadas bem conservadas, embora precisem de pequenos reparos, como vitrais quebrados e portões enferrujados.

Informações

Gerson Linhares afirma que, para que haja uma cultura de visita às igrejas, é necessário que os ambientes estejam sempre abertos e que, se possível, os párocos treinem pessoas para recepcionar os visitantes e fornecer informações sobre a história do local. "A memória dos monumentos religiosos faz parte da história e, como Fortaleza é uma cidade turística, é salutar que os moradores conheçam a história da cidade em que vivem", opina.

Fiel do Santuário Nossa Senhora de Fátima, Inês concorda que os frequentadores devem ter consciência da história das igrejas. "Os padres têm boa vontade, mas, infelizmente, não contam com a boa vontade dos fiéis. Se eles conhecessem a história, teriam ainda mais amor em visitar a casa de Deus", diz.

A equipe de reportagem tentou contato com a Setfor, mas não obteve sucesso.

Riqueza memorial

Monumentos

A Igreja do Pequeno Grande, construída em 1903 em estilo neogótico, é a que melhor conserva originais, segundo o turismólogo Gerson Linhares. A Igreja do Rosário, de 1730, é a mais antiga de Fortaleza. As igrejas de Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora dos Navegantes apresentam fachadas bem conservadas Fotos: Kid Júnior

Circuito dá espaço a turismo religioso

O Projeto Circuito de Turismo Religioso foi lançado em novembro de 2011 pela Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Turismo de Fortaleza, com o objetivo de ampliar a oferta turística na Cidade, além de permitir que turistas e cidadãos locais conhecessem a história e arquitetura sacras da Capital.

Os dois roteiros apresentados gratuitamente à época incluíam a oferta de ônibus com um guia que relatava a historicidade dos monumentos e contava com paradas, inclusive com a celebração de uma missa em um dos locais visitados. Os visitantes recebiam materiais informativos e brindes de cunho religioso, como terços e missais.

Os roteiros, que aconteciam nos fins de semana, passavam por monumentos como a Catedral Metropolitana de Fortaleza, o Santuário de Fátima, as ruínas do templo de São Francisco, o Cemitério São João Batista, as igrejas de Nossa Senhora da Saúde e do Pequeno Grande, o Monumento do Cristo Redentor e o Seminário da Prainha.

Conforme o turismólogo Gerson Linhares, um dos idealizadores do circuito, o projeto terminou em 2012, mas há a possibilidade de retornar, sendo necessária a aprovação da Prefeitura de Fortaleza. A intenção é aumentar o número de roteiros para contemplar ainda mais pontos religiosos de Fortaleza. 

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