Em entrevista ao Diário do Nordeste, Paulo Artaxo, professor do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais
respeitados especialistas em mudanças climáticas em todo o mundo, alerta
para as decisões que devemos tomar para tentar reverter o quadro atual,
principalmente no que diz respeito à diminuição de emissão de gases de
efeito estufa (GEE).
No plano local, o doutor em Ciências do Mar Davis Pereira de Paula
explica, dentre outras coisas, como o Porto do Mucuripe, construído na
década de 30 do século passado, impactou a costa oeste de Fortaleza e
atingiu praias de Caucaia, como a de Iparana, que praticamente foi
varrida do mapa. Para o especialista, não se pode atribuir apenas a essa
questão os problemas que se sucederam nessas faixas de praia do nosso
litoral.
Em contrapartida, o Porto do Pecém, construído afastado da costa
(offshore), até o momento não causou qualquer tipo de impacto mais
significativo, se comparado ao do Mucuripe. A Praia do Pecém, aliás, uma
das que mais sofria com processos erosivos, foi beneficiada com uma
pequena engorda.
O especialista ressalta o que ele chama de "avanço da civilização sobre
o mar". Lembra que, em grande parte, as ocupações feitas de forma
desordenada contribuíram para tanta destruição.
Já o professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Jeovah Meireles, alerta para os fatores antrópicos que podem
interferir para que uma das mais conhecidas dunas do nosso litoral, a do
Pôr do Sol, de Jericoacoara, possa desaparecer antes do que deveria.
Ali, centenas de pessoas sobem todos os dias. No período de fim de ano, o
fluxo passa a ser de milhares de visitantes.
Jeovah Meireles aborda ainda a questão de algumas usinas eólicas
instaladas no nosso parque de dunas e que, a exemplo de outros
empreendimentos, estão sendo alcançadas pelo avanço do mar.
Dentre as praias visitadas, a do Icaraí, cuja erosão de há muito vem
ocupando espaço na mídia local parece estar perto de uma solução, com a
construção de vários espigões, com custo aproximadamente de R$ 110
milhões, o que, aliás, dimensiona os prejuízos causados pela erosão
marinha. O problema é que esse tipo de intervenção pode acabar afetando
outras praias mais próximas, como Cumbuco, por exemplo.
Na Praia do Icaraizinho, em Amontada, um cemitério secular na beira do
mar pode estar com os dias contados. Ali, os corpos são enterrados sem
qualquer controle da Prefeitura. Em Almofala, distrito de Itarema, as
dunas móveis locais soterraram uma igreja durante 45 anos. O imóvel,
devidamente restaurado, é hoje ponto de visitação por parte de turistas e
curiosos.
Fonte: Diário do Nordeste.
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