O local passou a ser usado como cemitério após ser encontrado o
corpo
de um homem com uma corrente na boca e um saco na cabeça
fotos: kid júnior
Prefeitura admite que não tem qualquer tipo de controle em relação aos corpos que são enterrados
Amontada. Entre 1904 e 1905, o corpo de um homem, trazido pela maré, apareceu na beira da Praia do Icaraizinho, em Amontada. Sua boca estava envolta em uma corrente e a cabeça coberta por um saco. Ali mesmo, ele foi enterrado e ficou conhecido como "o homem do saco". Um desconhecido, entretanto, foi até o local pedir à comunidade que passasse a se referir ao morto como Serafim, que seria o seu nome verdadeiro.
Amontada. Entre 1904 e 1905, o corpo de um homem, trazido pela maré, apareceu na beira da Praia do Icaraizinho, em Amontada. Sua boca estava envolta em uma corrente e a cabeça coberta por um saco. Ali mesmo, ele foi enterrado e ficou conhecido como "o homem do saco". Um desconhecido, entretanto, foi até o local pedir à comunidade que passasse a se referir ao morto como Serafim, que seria o seu nome verdadeiro.
Esse foi o mote para os moradores locais passarem a reverenciar a
figura de "São Serafim", conta o biólogo e pesquisador Erisvaldo
Gonçalves de Sousa, 49 anos. "Vem gente de longe para se enterrar no
local. As pessoas atribuem ao 'santo' uma série de milagres. Outros que
viveram sempre perto do mar acham que se forem enterrados aqui
permanecerão nessa condição eternamente".
Erisvaldo conheceu, quando adolescente, Zefa Carmona, uma senhora que
ajudou a enterrar Serafim. "Ela sempre nos relatava que o corpo dele
parecia intacto, não apodreceu, apesar das marcas mostrarem que estava
no mar há muito tempo. Além disso, saía sangue da sua boca. Toda essa
história reforçou o mito em torno do estranho".
A exemplo de outros cemitérios no Estado localizados na beira da praia,
o do Serafim, conhecido também como Pedra Comprida, está ameaçado pela
maré. "Nos últimos 40 anos, o mar avançou cerca de cem metros aqui na
região. Só não encobriu ainda o cemitério por causa dos arrecifes que
fazem a proteção natural. Mas não sei até onde ele conseguirá suportar",
pondera Erisvaldo.
Sem vigilância
Além dessa ameaça, outros problemas graves são registrados no local. A
reportagem ficou praticamente toda a tarde ali, onde o acesso só ocorre a
pé ou em veículo com tração nas quatro rodas, e não encontrou uma só
pessoa, nem mesmo um vigia. A qualquer instante, é possível se enterrar
um corpo. Afora isso, restos de ossos estão expostos.
Algumas sepulturas estão destruídas pela erosão. "É uma situação
preocupante. Não há controle para saber quantas pessoas estão enterradas
e o nome delas. Não é preciso de atestado de óbito ou qualquer outro
documento para tal", lembra Erisvaldo.
Antigo
Indagado em relação às condições de precariedade do cemitério, o
secretário de Infraestrutura de Amontada, Cleófas de Queiroz, minimiza o
problema. "O cemitério na praia é uma coisa muita antiga. Não podemos
mexer de uma hora para outra".
Cleófas admite que a Prefeitura não tem qualquer tipo de controle.
"Nunca houve registro de quem é enterrado por lá. Apesar disso, não
creio que alguém traga propositadamente algum corpo de longe para
abandonar ali".
No tocante à ação do mar, Cleófas assegura que a Secretaria estuda a
possibilidade de fazer um quebra-mar em grande parte da Praia do
Icaraizinho.
"Não só ali no cemitério mas em toda a nossa orla precisa ser realizado
algum tipo de contenção pois a erosão é visível. A Prefeitura não
dispõe de recursos para tal e, como ocorre em outros locais,
precisaremos de verbas do governo federal para nos ajudar", diz Cleófas.
(FM)

Fonte: Diário do Nordeste
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