Embora o deslocamento das dunas seja um processo natural ao longo
do tempo,
a presença humana, como em Jeri, pode apressar essa dinâmica
FOTO: KID JÚNIOR
Jeovah Meireles afirma que o mar avança em locais onde as dunas estão sendo ocupadas de forma inadequada.
Jijoca de Jericoacoara. Uma das atividades mais
prazerosas para quem visita o Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara é
contemplar o pôr do sol numa duna que leva o nome dessa dádiva da
natureza. Ao contrário do que muita gente imagina, essa ação, realizada
por milhares de pessoas diariamente, pode estar afetando o importante
elemento do ecossistema costeiro, segundo estudos do professor do curso
de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Jeovah Meireles.
Para se ter uma ideia da visitação a que está exposta, o autônomo
Renato da Silva e Souza, 37 anos, que escala todo dia o local para levar
uma barraquinha improvisada para vender água de coco e caipirinha aos
frequentadores, garante que ela chega a receber mais de 10 mil turistas
durante o Réveillon.
"Em dias comuns, são cerca de 600 pessoas, com um aumento nos fins de
semana; no período de festas de fim de ano, esse número chega a três
mil; no dia de Réveillon, fica completamente tomada, com mais de 10 mil
pessoas", assegura Renato.
Além do sobe e desce das pessoas, a reportagem flagrou passeios a
cavalo e muitas crianças, adolescentes e até adultos descendo numa
pequena prancha de madeira, num esporte chamado de " esquibunda".
O professor Jeovah Meireles vem estudando há bastante tempo o parque de
dunas de Jericoacoara, em especial a duna do Pôr do Sol, a do Papai
Noel, que fica um pouco mais a leste da primeira, e a da Arraia, a maior
das três. "A do Pôr do Sol, possivelmente por essa enorme frequência,
está sendo alterada tanto na forma quanto na dinâmica de migração. A
médio prazo, será consumida pelas ondas e os ventos que a estão levando
para dentro do mar. Esse trânsito de pessoas subindo e descendo a sua
face de avalanche está incrementando a queda de areia que pode ir parar
inclusive nos Lençóis Maranhenses. Afirmo sem dúvida alguma, que o mar
está avançando em todos os locais onde as dunas estão sendo ocupadas de
forma inadequada", diz Meireles.
Passeio proibido
O chefe da Parna Jericoacoara, Wagner Cardoso, admite que a presença
das pessoas pode acelerar o desaparecimento da duna, mas acredita que o
impacto humano é pequeno se comparado às ações naturais das marés e dos
ventos. Argumenta ser inviável proibir o acesso de turistas, pois essa é
uma das principais atrações para os visitantes. "Tal medida, implicaria
em maciça manifestação contrária da população de Jeri, que se sustenta
pela exploração do mercado turístico do local". Em relação ao passeio a
cavalo, garante que "será proibido após a revitalização da sinalização
visual do Parna, que será implementada nos próximos meses". (FM)

Fonte: Diário do Nordeste.
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