Usina eólica sofre com a ação erosiva em sua base

 

A erosão provocada pelo avanço do mar ataca a base de muitos aerogeradores

 da usina eólica do Praia do Morgado, em Acaraú: a cada dia, a maré chega mais perto das

 torres; quando está cheia chega a alcançá-las

fotos: kid júnior

A maré vem avançando cada vez mais sobre os aerogeradores instalados na Praia do Morgado e já destruiu parte de uma estrada de acesso ao parque

Acaraú. Investir em energia eólica no Ceará pode virar um negócio de alto risco se não forem tomadas algumas providências para evitar que os aerogeradores fiquem longe das áreas de domínio da maré. Em alguns locais, como na Praia do Morgado, localizada no distrito de Aranaú, em Acaraú, a base dos equipamentos está sendo alcançada pela maré, tendo sido necessário reforçá-la.

Na usina, pertencente à Impsa, existem 19 torres de aerogeradores. Os sinais de avanço do mar são visíveis. A maré destruiu parte da pista que dá acesso às torres um e dois no fim do ano. Por ocasião da visita da reportagem, a estrada estava sendo refeita. De todas as torres, a última delas (número 19), foi a que recebeu mais pedras na base. Em alguns trechos, os cabos de transmissão de dados e os de energia estavam descobertos.

A reportagem tentou o contato telefônico várias vezes com o gerente do parque eólico da Impsa. Ele nos explicou que aguardava a autorização dos diretores, "que estavam viajando", para responder às nossas indagações, o que não aconteceu até o dia de ontem, data de fechamento do material.

O professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, defende o uso da energia eólica mas critica a implantação de usinas nas dunas. "Essas usinas põem o campo de dunas em inércia, prejudicando o seu movimento natural. Isso, sem mencionar o impacto ocasionado pela instalação delas".

Degradação

Conforme o professor "as usinas eólicas que estão operando e as em fase de instalação nos campos de dunas revelaram até aqui que a área ocupada pelos aerogeradores é gravemente degradada - desmatada, terraplenada, fixada, fragmentada, compactada, alteradas a morfologia, topografia e fisionomia do campo de dunas -, pois se faz necessário a manutenção de uma rede de vias de acesso para cada um dos aerogeradores e como também resguardar a base dessas estruturas da erosão".

Jeovah Meireles ressalta que "as dunas representam reservas estratégicas de sedimentos, água, paisagens e ecossistemas que desempenham relações socioeconômicas vinculadas ao uso ancestral e sustentável das comunidades litorâneas e étnicas. São de interesse direto dos turistas que vêm conhecer paisagens únicas no planeta".

Praia do Preá

A psicóloga Janete Cristina Sera é paulista mas há dez anos resolveu vir morar na Praia do Preá, no município de Cruz. Dona de uma barraca na praia, Janete é conhecida da região "pelo respeito à natureza".

Outro aspecto que chama a atenção em relação a ela é a contenção armada defronte a sua barraca. "Uso sacos de areia que ficam amarrados, organizados feito tijolos para conter com eficácia a chegada das ondas. Uma das soluções para ajudar a melhorar a situação por aqui é plantar árvores nativas. Estou reivindicando junto à Prefeitura algumas mudas de palmeira. A raiz funciona como se fosse uma ponteira, que ajuda a segurar as ondas num movimento espiral. É claro que isso é apenas uma maneira de nos protegermos de forma natural, sem agredir mais ainda à natureza". (FM)

Fonte: Diário do Nordeste