A Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel está fechada
para reforma desde o último dia 24 de fevereiro. As obras deveriam
ter
iniciado em abril, com término em seis meses,
mas ainda não começaram
Fotos: Natinho Rodrigues
Muito mais do que um local para guardar livros, as bibliotecas se
constituem em ambientes de aprendizagem e, também, de convivência. Mas,
para transformá-las em espaços convidativos, de incentivo à leitura, é
preciso que oferecer um rico acervo, com espaço físico amplo, silencioso
e confortável, proporcionando aos visitantes a imersão no universo do
conhecimento. Em Fortaleza, no entanto, quem precisa desses equipamentos
públicos fora das universidades, conta com apenas duas opções: a
biblioteca municipal e a estadual, ambas em condições precárias de
funcionamento.
Problemas estruturais no prédio da Biblioteca Pública Governador
Menezes Pimentel, vincula à Secretaria da Cultura do Estado (Secult),
foi o que motivou a queda de 80% no movimento do equipamento. Conforme
informações da Secult, até 2010, a média de visitantes mensal da
biblioteca era em torno de 10 mil pessoas. Porém, a partir daquele ano,
esse número vem reduzindo e, no início deste ano, caiu para cerca de 2
mil visitantes.
Entre os problemas observados na Biblioteca Dolor Barreira,
do
município, foram tintura gasta e rebocos da parede caindo
Porém, não há
reformas previstas
Para que uma ampla reforma pudesse ser realizada, a biblioteca está
fechada e todos os seus serviços suspensos desde 24 de fevereiro deste
ano. A perspectiva era de que as obras fossem iniciadas em abril, com
duração de seis meses. Cinco meses depois, porém, ainda não começaram,
gerando prejuízos a visitantes e, sobretudo, aos estudantes, que
dependem do acervo da biblioteca para realizar pesquisas.
Francisco Ari Andrade, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), reclama que os seus alunos, que precisam fazer consultas para realizar os trabalhos, cujos assuntos não se encontram disponíveis na internet, estão sendo prejudicados. "Os alunos do ensino superior em processo de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que precisam de dados em jornais micro filmados ou informações em livros raros, estão impedidos de fazer a pesquisa", aponta.
Mesmo os professores que pesquisam e orientam estudos na área de história do Ceará, acrescenta Andrade, ficam em uma situação complicada, pois não há outro local que substitua o acervo que a Biblioteca Pública dispõe. "Como entender uma cidade que fecha a sua biblioteca, em um momento em que todos defendem a democratização da educação?", questiona.
Município
Situação similar de precariedade vive a Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira, situada na Avenida da Universidade, bairro Benfica. Acervo restrito, insegurança, banheiros sujos, bebedouro quebrado, rebocos da parede caindo, tintura gasta, espaço da sala de estudos pequeno e horário de funcionamento reduzido foram algumas reclamações feitas pelos frequentadores.
"Em termos de infraestrutura, a biblioteca é fraca. Poderiam melhorar os espaços fazendo novos pavimentos, primeiro, segundo, terceiro andar. Tem estrutura para isso. Muitos deixam de vir, porque não encontram aqui um ambiente ideal", destaca o estudante universitário José Marques, 25, que quase todos os dias estuda na Dolor Barreira. Por ser a única biblioteca que o município dispõe, acrescenta o estudante, ela não está sendo devidamente zelada.
"Eu mesmo venho porque não tenho outra opção. O que nós, estudantes, pedimos à Prefeitura é que dê um maior apoio financeiro para melhorar o espaço físico da biblioteca e o seu acervo. A estrutura física há muito tempo precisa de uma reforma, mas nada muda e a situação permanece a mesma", critica.
Já o estudante universitário Dirceu Holanda, 26, sente falta de iniciativas culturais. "Antes, tinha mostra de filmes, de documentários, agora não tem mais. Não sei se é por causa da mudança da administração ou falta de investimento do governo". Ele considera a estrutura boa, mas pequena em relação à demanda. Além disso, afirma que as opções de livros são escassas e ainda tem o problema da insegurança.
Obra ainda não tem data para começar
Só no último dia 26 de agosto é que a licitação para a reforma da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel foi realizada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). A Secult informa que as propostas apresentadas pelas empresas interessadas serão analisadas pelo Departamento de Arquitetura e Engenharia (DAE), que encaminhará o resultado para homologação pela Secult.
Após a assinatura da ordem de serviço pelo DAE e pelos representantes legais da empresa vencedora é que será autorizado o início das obras, que deve acontecer em até cinco dias. O governo do Estado disponibilizou o montante de R$ 14,7 milhões para realização das intervenções, mas o valor real do contrato só vai ser conhecido após a divulgação do resultado da licitação.
Intervenções
A reforma prevê intervenções nas instalações prediais, hidráulicas, sanitárias, elétricas e climatização, além de obras de acessibilidade e sinalização. Todo o forro será removido, os banheiros renovados e a fiação elétrica substituída. Atualmente, o prédio vem passando pelas obras de interligação ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, ao custo de R$ 2 milhões, que compreendem melhorias na fachada, nos acessos, no estacionamento, além da expansão da reserva técnica do Memorial da Cultura Cearense.
Sobre os problemas na infraestrutura da Biblioteca Dolor Barreira, a diretora Herbênia Gurgel diz que o equipamento tem ar condicionado e o acervo é atualizado na medida do possível. Ela cita que existe um convênio com a Secretaria da Cultura do Estado (Secult), pelo projeto Biblioteca Cidadã, através do qual estão sempre recebendo novos livros. Destaca que a segurança é feita 24 horas. De manhã, por guardas municipais e à noite, pela segurança privada.
Apesar de reconhecer que o espaço está pequeno para a atual demanda, diz que não tem nenhuma reforma ou ampliação prevista. "A biblioteca está pequena para os nossos projetos. Ela cresceu muito em demanda nos últimos cinco anos. Estamos situados no corredor do Benfica, então, recebemos muitos estudantes universitários e pessoas que estudam para concurso".
Herbênia informa que foi realizado um levantamento para avaliar o que precisa ser melhorado na biblioteca, mas explica que não existem prazos para as obras começarem.
Espaços nas escolas são subutilizados
O incentivo à leitura, que deve vir desde a educação básica, está prejudicado pela retirada dos profissionais responsáveis pelas bibliotecas das escolas da rede municipal. "Antes, tinha um professor para conduzir esses trabalhos. Com a retirada deles, a biblioteca se transformou em um espaço vazio", diz Gardênia Baima, diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute).
Gardênia, que foi professora titular de biblioteca, considera a medida um retrocesso para a educação e afirma que os espaços deveriam ser ampliados.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) explica que, no início de 2013, foi constatada a carência de professores em sala de aula e, por isso, os professores que estavam na função tiveram de voltar para sala de aula. Contudo, o órgão salienta que está viabilizando a contratação de estagiários de biblioteconomia para contribuírem com o pleno funcionamento desses espaços.
SAIBA MAIS
Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel
Criada em 25 de março de 1867, como Biblioteca Provincial do Ceará, teve várias sedes até se instalar definitivamente, em 1975, no prédio atual - uma área de 2.272 metros quadrados, distribuída em cinco pavimentos. Possui um acervo de aproximadamente 130 mil volumes, segundo o último levantamento, concluído em 2002.
Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira
Foi fundada em fevereiro de 1971 e reinaugurada em 2009. O equipamento passou por uma grande reforma em seu espaço físico e teve o acervo ampliado - hoje, são cerca de 16 mil volumes nas diversas áreas do conhecimento. É a biblioteca central da rede municipal.
Mais informações:
Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira: Avenida da Universidade, 2572, bairro Benfica. Funciona de segunda-feira à sexta-feira de 8h às 20h e, aos sábados, de 8h às 17h.
Luana Lima
Repórter
Francisco Ari Andrade, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), reclama que os seus alunos, que precisam fazer consultas para realizar os trabalhos, cujos assuntos não se encontram disponíveis na internet, estão sendo prejudicados. "Os alunos do ensino superior em processo de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que precisam de dados em jornais micro filmados ou informações em livros raros, estão impedidos de fazer a pesquisa", aponta.
Mesmo os professores que pesquisam e orientam estudos na área de história do Ceará, acrescenta Andrade, ficam em uma situação complicada, pois não há outro local que substitua o acervo que a Biblioteca Pública dispõe. "Como entender uma cidade que fecha a sua biblioteca, em um momento em que todos defendem a democratização da educação?", questiona.
Município
Situação similar de precariedade vive a Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira, situada na Avenida da Universidade, bairro Benfica. Acervo restrito, insegurança, banheiros sujos, bebedouro quebrado, rebocos da parede caindo, tintura gasta, espaço da sala de estudos pequeno e horário de funcionamento reduzido foram algumas reclamações feitas pelos frequentadores.
"Em termos de infraestrutura, a biblioteca é fraca. Poderiam melhorar os espaços fazendo novos pavimentos, primeiro, segundo, terceiro andar. Tem estrutura para isso. Muitos deixam de vir, porque não encontram aqui um ambiente ideal", destaca o estudante universitário José Marques, 25, que quase todos os dias estuda na Dolor Barreira. Por ser a única biblioteca que o município dispõe, acrescenta o estudante, ela não está sendo devidamente zelada.
"Eu mesmo venho porque não tenho outra opção. O que nós, estudantes, pedimos à Prefeitura é que dê um maior apoio financeiro para melhorar o espaço físico da biblioteca e o seu acervo. A estrutura física há muito tempo precisa de uma reforma, mas nada muda e a situação permanece a mesma", critica.
Já o estudante universitário Dirceu Holanda, 26, sente falta de iniciativas culturais. "Antes, tinha mostra de filmes, de documentários, agora não tem mais. Não sei se é por causa da mudança da administração ou falta de investimento do governo". Ele considera a estrutura boa, mas pequena em relação à demanda. Além disso, afirma que as opções de livros são escassas e ainda tem o problema da insegurança.
Obra ainda não tem data para começar
Só no último dia 26 de agosto é que a licitação para a reforma da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel foi realizada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). A Secult informa que as propostas apresentadas pelas empresas interessadas serão analisadas pelo Departamento de Arquitetura e Engenharia (DAE), que encaminhará o resultado para homologação pela Secult.
Após a assinatura da ordem de serviço pelo DAE e pelos representantes legais da empresa vencedora é que será autorizado o início das obras, que deve acontecer em até cinco dias. O governo do Estado disponibilizou o montante de R$ 14,7 milhões para realização das intervenções, mas o valor real do contrato só vai ser conhecido após a divulgação do resultado da licitação.
Intervenções
A reforma prevê intervenções nas instalações prediais, hidráulicas, sanitárias, elétricas e climatização, além de obras de acessibilidade e sinalização. Todo o forro será removido, os banheiros renovados e a fiação elétrica substituída. Atualmente, o prédio vem passando pelas obras de interligação ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, ao custo de R$ 2 milhões, que compreendem melhorias na fachada, nos acessos, no estacionamento, além da expansão da reserva técnica do Memorial da Cultura Cearense.
Sobre os problemas na infraestrutura da Biblioteca Dolor Barreira, a diretora Herbênia Gurgel diz que o equipamento tem ar condicionado e o acervo é atualizado na medida do possível. Ela cita que existe um convênio com a Secretaria da Cultura do Estado (Secult), pelo projeto Biblioteca Cidadã, através do qual estão sempre recebendo novos livros. Destaca que a segurança é feita 24 horas. De manhã, por guardas municipais e à noite, pela segurança privada.
Apesar de reconhecer que o espaço está pequeno para a atual demanda, diz que não tem nenhuma reforma ou ampliação prevista. "A biblioteca está pequena para os nossos projetos. Ela cresceu muito em demanda nos últimos cinco anos. Estamos situados no corredor do Benfica, então, recebemos muitos estudantes universitários e pessoas que estudam para concurso".
Herbênia informa que foi realizado um levantamento para avaliar o que precisa ser melhorado na biblioteca, mas explica que não existem prazos para as obras começarem.
Espaços nas escolas são subutilizados
O incentivo à leitura, que deve vir desde a educação básica, está prejudicado pela retirada dos profissionais responsáveis pelas bibliotecas das escolas da rede municipal. "Antes, tinha um professor para conduzir esses trabalhos. Com a retirada deles, a biblioteca se transformou em um espaço vazio", diz Gardênia Baima, diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Ceará (Sindiute).
Gardênia, que foi professora titular de biblioteca, considera a medida um retrocesso para a educação e afirma que os espaços deveriam ser ampliados.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) explica que, no início de 2013, foi constatada a carência de professores em sala de aula e, por isso, os professores que estavam na função tiveram de voltar para sala de aula. Contudo, o órgão salienta que está viabilizando a contratação de estagiários de biblioteconomia para contribuírem com o pleno funcionamento desses espaços.
SAIBA MAIS
Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel
Criada em 25 de março de 1867, como Biblioteca Provincial do Ceará, teve várias sedes até se instalar definitivamente, em 1975, no prédio atual - uma área de 2.272 metros quadrados, distribuída em cinco pavimentos. Possui um acervo de aproximadamente 130 mil volumes, segundo o último levantamento, concluído em 2002.
Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira
Foi fundada em fevereiro de 1971 e reinaugurada em 2009. O equipamento passou por uma grande reforma em seu espaço físico e teve o acervo ampliado - hoje, são cerca de 16 mil volumes nas diversas áreas do conhecimento. É a biblioteca central da rede municipal.
Mais informações:
Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira: Avenida da Universidade, 2572, bairro Benfica. Funciona de segunda-feira à sexta-feira de 8h às 20h e, aos sábados, de 8h às 17h.
Luana Lima
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário