D. Steiner diz, porém, que o
fato de o País ter neste ano entre os favoritos para chegar ao Palácio
do Planalto uma política evangélica que faz questão de ressaltar sua
religiosidade - e é apoiada por Malafaia e Feliciano - não o preocupa.
"As instituições nunca podem deixar de dialogar, independentemente de
quem seja. Independentemente da fé que essas pessoas expressam", afirma,
referindo-se à presidenciável do PSB, Marina Silva.
O
secretário-geral da CNBB critica, na verdade, os políticos que se
aproximam dos templos apenas em época de eleição. "Igreja não é
palanque", diz o líder católico.
O candidato a
vice-presidente da Marina Silva, Beto Albuquerque, disse que "nem a
política deve mandar na religião, nem a religião na política". Como o
senhor vê essas declarações?
Quando falamos de Estado
laico e de o Estado cuidar da religião, estamos falando da necessidade
das pessoas terem a liberdade de expressar a sua fé. Agora, as pessoas
que expressam a sua fé são cidadãos. E esses cidadãos devem ser ativos
na sociedade para ajudar a construir a nação brasileira. Não existe
Estado sem cidadão, porque as instituições só existem enquanto existem
pessoas. A grande maioria dos brasileiros são pessoas de fé. A religião
tem função muito importante, na questão dos critérios, dos valores
essenciais, das relações mútuas. A religião tem elementos que podem
ajudar a construir a sociedade e por isso também a política.
A religião deve influenciar a política?
O
exercício da política acontece com as pessoas. A fé interfere na
política da pessoa, no modo de fazer a política. Se interferisse mais,
provavelmente não teríamos tanta corrupção. Não teríamos alianças às
vezes espúrias. Estamos esquecendo que é a pessoa que faz a política,
estamos colocando como duas coisas estanques: religião e política. Só
existe religião porque existem pessoas, existe política porque existem
pessoas, e esse elemento de fundo não se discute. A pessoa que não tem
fé expressa de maneira diferente a sua política.
Na opinião do senhor, a corrupção então está associada a uma falta de fé das pessoas?
A
uma falta de valores que a religião deveria dar. É só começar a
campanha eleitoral que começam a surgir alguns "milagres", como os
candidatos indo às igrejas para pedir votos, almoçando em restaurantes
populares, visitando favelas. Isso é só marketing?
Isso, se
ocorre só na eleição, não é salutar para a política. Agora, naturalmente
os candidatos precisam estar presentes, se mostrar... Igreja não é
palanque, mas nós sabemos que muitos candidatos têm ido a eventos, não
só agora, mas em outros momentos...
O sr.
comentou que a fé afeta a maneira de fazer política. A candidata do PSB,
Marina Silva, por exemplo, lê a Bíblia para orientar a sua tomada de
decisões. Essa é uma boa postura para um presidente da República?
É
uma boa postura na medida em que (um político) não obrigue ninguém a
fazer (igual). Pode ser um bom exercício, quando alimenta a grandeza da
própria fé. Sem desmerecer a análise da realidade, sem deixar de levar
em consideração os conflitos sociais, a questão dos direitos, dos
pobres, a educação para todos.
Sem deixar de lado a racionalidade?
A
racionalidade, de novo, no sentido de conseguir dar a razão, não no
sentido de ser frio. A gente poderia até falar no sentido, São Pedro
fala, "dar as razões da fé", é conseguir perceber o fundo das questões.
O
fato de Marina Silva ser evangélica e ter grandes chances de se eleger
presidente da República não vai afetar o relacionamento entre a Igreja
Católica e o Palácio do Planalto?
As instituições
precisam dialogar. Como pessoas, representamos instituições. As
instituições nunca podem deixar de dialogar, independentemente de quem
seja. Independentemente da fé que essas pessoas expressam.
O diálogo com a Marina já existe?
Sim,
como a gente tem diálogo com o Aécio (Neves), tínhamos um diálogo
franco com o Eduardo Campos, como dialogamos com a presidente (Dilma
Rousseff). O diálogo faz bem e principalmente porque representamos
instituições que têm tarefa importante - ajudar a construir uma
sociedade.
Como o sr. vê a campanha política
tratar de temas como legalização de drogas, aborto e casamento civil
gay? Esse é um debate enriquecedor ou serve apenas para polarizar a
sociedade e dividi-la entre conservadores e progressistas?
Considero
importante discutir esses temas, no sentido do cidadão saber o que os
candidatos estão pensando. Seria prejudicial se, com as respostas, nós
começássemos a criar determinadas imagens depreciativas, rótulos. Quando
nós desejamos avaliar um candidato, nós não podemos avaliá-lo por uma
proposta só, temos de avaliar pelas diversas propostas.
As
declarações dos pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia nas redes
sociais sempre ganham muita repercussão. A Igreja Católica tem adotado
uma postura mais discreta no debate eleitoral?
Não é
tarefa nossa, nós não temos curral eleitoral. Inclusive toda orientação é
dada para que os padres não falem dentro das igrejas sobre candidatos. A
Igreja Católica tem posição no debate, tanto é que no dia 16 teremos
debate da CNBB com os candidatos a presidente.
A
CNBB é uma das maiores defensoras da reforma política. As manifestações
de junho conseguiram tirar os políticos da "zona de conforto" e
convencê-los da importância do tema?
Sem pressão da
sociedade não acontecerá reforma política. Para a reforma política
existe uma exigência muito grande: não se pode pensar em partido, é
preciso ter um amor muito grande pelo Brasil. E mais: é preciso ter uma
noção da grandeza da política. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: O Povo Online
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