Churrasco do Fábio
Comércio nas ruas para quem não quer patrão
"Quando sai do trabalho, quem é que não gosta de comer um espetinho com
refrigerante, junto com os amigos", indaga o ambulante Fábio Rodrigues
de Sousa, 33, ao lado de sua banquinha de churrasco, instalada no meio
da Avenida Aguanambi - no espaço entre a faixa de pedestres e a pequena
calçada sobre o canal, na qual promove uma espécie de happy hour a céu
aberto. "Desvantagem, aqui, não tem, e o barulho a gente tira de letra",
atesta, entre as buzinas de carro e ruído de motores acelerando.
Um problema de saúde, que impede Fábio de fazer muito esforço, foi o
estímulo para a criação do próprio negócio, há dez anos, depois de uma
tentativa frustrada de emprego formal como auxiliar de serviços gerais.
"Eu já morava aqui no Bairro de Fátima, aí comecei, só que era lá", diz
apontando para uma das margens da avenida, onde também se concentram
vendedores de churrasco e milho verde cozido.
Da função que desempenhava na empresa de confecções à atividade como
churrasqueiro, não houve tempo para treino. "Ora, foi Deus que me
ensinou. Eu sou do Interior, trabalho desde pequeno, gente do Interior é
desenrolada", define. Hoje, ele vende cerca de 100 espetinhos por dia,
ao preço de R$ 2 cada um. Entre os acompanhamentos, os clássicos baião
de dois e farofa, além de refrigerante, cerveja e até cachaça - que pode
vir em doses com tamanho diferente.
Aposentadoria garantida
A preparação do churrasco começa às 15h, quando ele chega do Conjunto
Ceará, onde mora, e organiza carvão, espetos e bebidas no gelo, e vai
até às 22h. Os fins de semana, são reservados ao descanso: "É quando a
gente pode ir pra uma praia, né?". Com a rotina definida por ele próprio
e todas as despesas da casa e da filha de 13 anos garantidas, Fábio diz
que não quer mais emprego de carteira assinada. "Não aguento abuso de
patrão", afirma. Consciente da responsabilidade com o próprio futuro,
ele buscou a formalização e contribui para a Previdência. "Pago o INSS
como autônomo, a gente tem que tomar uma atitude pra se cuidar",
aconselha, contando um ano de formalização.
Entre os bancos e pequenas mesas plásticas distribuídas na calçada,
próximas da churrasqueira, Fábio é churrasqueiro, garçom e caixa, para
atender ao menos 10 pessoas ao mesmo tempo. A expansão do negócio para
um espaço maior ainda é distante de seus planos. "Isso aí só quem sabe é
Deus. Ainda não dá pra juntar muito dinheiro não", justifica. (JC)
Barão da Pipoca
Uma maneira para completar a renda mensal
O nome de registro é Manoel Holanda Neto, 63, mas se chamar por Adail
ou mesmo por Barão, ele prontamente vai ao encontro, já com um saquinho
de pipoca na mão. Cheio de mistérios, seu Adail (ou Manoel, ou Barão),
não encontra resposta para o motivo de ter escolhido as pipocas como
renda ambulante, ou como encontrou o ponto onde está há três anos, na
Rua Joaquim Nabuco, no bairro Dionísio Torres: "Sei lá", diz vagamente.
Mas é enfático em justificar a escolha da atividade: "Foi pra 'interar' a
renda".
A venda das pipocas do Barãol começou há 15 anos, para complementar o
salário de auxiliar de serviços gerais que recebia, trabalhando em uma
escola da área nobre da Capital. "Eu morava ali perto do Cocó, e quando
tinha evento lá, eu botava as pipocas pra vender, mas era só de vez em
quando", conta. Apesar de pouco e sem frequência definida, o dinheiro
extra ajudava no orçamento necessário para sustentar a casa com os cinco
filhos e a esposa.
Há três anos, com a aposentadoria, ele pôde sair do trabalho e decidiu
se especializar na produção das pipocas, e a atividade, empreendida como
um complemento ao salário magro da Previdência, transformou-se também
em uma terapia. "Ficar dentro de casa é pior", diz, justificando o
trajeto diário entre seu novo ponto de trabalho e as proximidades da
Rodoviária.
Bancando as despesas de casa
Entre saquinhos de pipoca, que custam R$ 1 ou R$ 2, o Barão apura cerca
de R$ 70 diariamente, o que representa um incremento de aproximadamente
R$ 1.400 mensais no orçamento da família. O dinheiro é "para as
despesas de casa", mas com a organização financeira do pipoqueiro, é
possível se planejar para garantir que as compras de valor alto, por
exemplo, sejam pagas à vista, e que ele consiga se manter nos meses que
há férias escolares, quando não tem venda de pipoca.
O último bem adquirido, fruto desse planejamento, foi o próprio
carrinho de pipoca no qual trabalha. "Foi R$ 1.200", orgulha-se,
apontando para o equipamento de alumínio reluzente a sua frente.
Para alimentar o pipocado constante do carro, o Barão compra cerca de
60 Kg de milho por mês. "É milho argentino, que eu compro no Mercado São
Sebastião", garante. Entre um cliente e outro, ele cumprimenta os
amigos conquistados, faz brincadeira com as crianças que procuram a
pipoca e atesta que vai continuar no ramo "até quando puder andar". "Tá é
valendo, aqui!", conclui. (JC)
Fonte: Diário do Nordeste
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