O contágio é extremamente fácil. Ocorre pela mucosa nasal
e dos
olhos, assim como pelo contato com superfícies
porosas (brinquedos)
foto: agência dn
Resistente, de contágio extremamente fácil - sobrevive em superfícies
porosas (como a de brinquedos) por até seis horas - o Vírus Sincicial
Respiratório (VSR) é a causa mais frequente de infecções respiratórias
do trato inferior em uma população vulnerável e de alto risco: bebês
prematuros (nascidos com ou abaixo de 35 semanas de gestação) ou com
cardiopatias congênitas. No Nordeste, a 'estação do vírus' coincide com a
quadra chuvosa, em meados de março.
Em crianças maiores de dois anos e adultos sadios, os sintomas do VSR
se assemelham aos de uma gripe forte. Detalhe: contrair o vírus não dá
imunidade ao portador, sendo uma possível causa de resfriados
recorrentes em adultos. No caso de crianças até três anos, o diagnóstico
mais frequente decorrente do contágio pelo VSR é o de uma bronquiolite
aguda, afirma a Dra. Patrícia Bezerra, pesquisadora do Instituto de
Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (PE), uma das palestrantes do
simpósio sobre o VSR apresentado durante o 22º Congresso Brasileiro de
Perinatologia, realizado este mês, em Brasília.
Prematuridade
Não se sabe ainda ao certo porque, mas o fato é que a incidência de
nascimentos prematuros se mantém crescente no Brasil desde 1990 (média
de 10%). Estima-se que o índice de bebês prematuros alcance este ano
cerca de 14%.
Sem estatísticas que confirmem essa tendência, os médicos supõem que
tal condição resulte de uma série de fatores, a começar pelo estilo de
vida da mulher contemporânea, que vive às voltas com o enfrentamento
diário do estresse, dieta inadequada, infecções recorrentes, tabagismo.
As mudanças observadas no microbioma humano (trilhões de bactérias e
vírus que povoam as diferentes partes do corpo) também poderiam explicar
o aumento no número de nascimentos prematuros, segundo esclarece o
pesquisador e coordenador do Laboratório de Fisiologia Respiratória da
Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Porto
Alegre (RS) e coautor do estudo Brevi ("Brazilian Respiratory Virus
Study"), Dr. Marcus Jones.
Estudo Brevi
Estudo epidemiológico e prospectivo, o Brevi acompanhou, de 2008 a
2010, 303 bebês nascidos com ou abaixo de 35 semanas de gestação (abaixo
de dois quilos), em três centros de pesquisa (Porto Alegre Curitiba e
Ribeirão Preto), com apoio da biofarmacêutica AbbVie. O objetivo foi
mapear a incidência do VSR em infecções respiratórias graves em bebês
que necessitam de internação.
Além do Vírus Sincicial Respiratório, o estudo identificou outros oito
vírus respiratórios associados com maior frequência às infecções
respiratórias e a infecções graves e seu impacto na saúde já fragilizada
do bebê prematuro. Entre os quatro vírus mais associados a quadro
graves, o VSR foi o mais frequente, seguido do rinovírus.
"O VSR é o vírus mais malvado para o bebê prematuro", esclarece Dr.
Marcus Jones que também coordena os Cursos de Especialização da
Faculdade de Medicina da PUC/RS. Publicado em outubro deste ano, o Brevi
mostrou que o VSR foi responsável por cerca de 66,7% dos casos de
hospitalização de bebês prematuros por problemas respiratórios como
agente único ou em coinfecção com outros vírus. A infecção pelo VSR
ocorreu em todos os meses do período estudado (entre 2008 e 2010), sendo
observado maior pico nos meses de abril a julho.
Presente o ano todo
Embora tenha sua sazonalidade mais definida em outros países (no outono
e inverno), no Brasil, o VSR circula praticamente o ano inteiro. Num
País com dimensão continental como o nosso, a 'estação do vírus' começa
normalmente pela região Norte, seguida do Nordeste, Sudeste e Sul.
Ainda não há uma explicação para o modo como o vírus circula no Brasil.
No entanto, é sabido que sua presença não está relacionada a baixas
temperaturas.
Não há tratamento para o VSR, somente para amenizar os sintomas, afirma
a pesquisadora do IMIP, Dra. Patrícia Bezerra. Para casos mais graves
em bebês prematuros há apenas uma medicação, cujo alto custo inviabiliza
seu uso.
Uma das questões levantadas pelos pesquisadores diz respeito à falta de
um protocolo - medidas profiláticas - voltado especificamente para o
prematuro. No âmbito preventivo, existe uma lei federal que determina o
uso de um anticorpo monoclonal (injeções mensais) para os bebês do grupo
de risco.
"O difícil diagnóstico se deve à falta de uma rotina/condutas a serem
seguidas em todas as unidades hospitalares. Também seria necessário
haver um exame específico para identificar o VSR", diz a médica. O mesmo
não ocorre com outros vírus, a exemplo do influenza, que possui um
monitoramento oficial (Fiocruz).
Estudo Previne
Antes do "Brazilian Respiratory Virus Study" (Brevi), a incidência do
Vírus Sincicial Respiratório (VSR) foi objeto de outro estudo, o
Previne, realizado em 2012, em quatro capitais nordestinas (Maceió,
Aracaju, Salvador e Recife) com um grupo de 500 crianças, de 0 a 2 anos,
hospitalizadas por infecção respiratória. As análises foram feitas
mediante a coleta de secreção.
Na Região, o estudo observou maior prevalência do vírus em bebês
prematuros durante a estação das chuvas, ou seja, a partir de março. No
Sul e Sudeste, o pico do VSR costuma ocorrer entre os meses de junho e
agosto.
Fique por dentro
NE concentra 14,7% dos partos prematuros
A prematuridade atinge 15 milhões de crianças todos os anos no mundo.
No Brasil, 340 mil bebês nasceram prematuros só em 2012, segundo dados
do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do SUS e do Ministério da
Saúde. Isso significa que nascem 931 prematuros/dia ou 40 por hora, no
Brasil, indicando uma taxa de prematuridade de 12.4%, o dobro do índice
de alguns países europeus.
Segundo pesquisa da Unicamp, o índice médio de prematuridade foi maior
na região Nordeste (14.7%) e menor no Sudeste (11.1%). Cerca de 80% dos
nascimentos prematuros ocorreram entre a 32ª e a 36ª semana de gestação e
7.4% antes das 28 semanas.
Entre os diversos riscos pesquisados, 14 são importantes indicadores
para a detecção precoce de um nascimento prematuro: gravidez múltipla
(de gêmeos ou mais bebês), encurtamento do colo do útero, má formação
fetal, sangramento vaginal e menos de seis consultas realizadas durante o
pré-natal. Também há risco entre as mulheres que já tiveram uma
gravidez no passado, parto prematuro e aborto prévio (e o aumento do
volume de líquido amniótico ao redor do feto). Segundo o estudo, a
chance de um parto prematuro também foi maior entre mães com menos de 19
anos e sem um parceiro, que fumam e tiveram infecções durante a
gestação.
Giovanna Sampaio
Editora do Vida
Editora do Vida
Fonte: Diário do Nordeste
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