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domingo, 30 de novembro de 2014

Vírus VSR começa a circular em março

O contágio é extremamente fácil. Ocorre pela mucosa nasal
 e dos olhos, assim como pelo contato com superfícies
 porosas (brinquedos)
foto: agência dn
 
 
Resistente, de contágio extremamente fácil - sobrevive em superfícies porosas (como a de brinquedos) por até seis horas - o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é a causa mais frequente de infecções respiratórias do trato inferior em uma população vulnerável e de alto risco: bebês prematuros (nascidos com ou abaixo de 35 semanas de gestação) ou com cardiopatias congênitas. No Nordeste, a 'estação do vírus' coincide com a quadra chuvosa, em meados de março.

Em crianças maiores de dois anos e adultos sadios, os sintomas do VSR se assemelham aos de uma gripe forte. Detalhe: contrair o vírus não dá imunidade ao portador, sendo uma possível causa de resfriados recorrentes em adultos. No caso de crianças até três anos, o diagnóstico mais frequente decorrente do contágio pelo VSR é o de uma bronquiolite aguda, afirma a Dra. Patrícia Bezerra, pesquisadora do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (PE), uma das palestrantes do simpósio sobre o VSR apresentado durante o 22º Congresso Brasileiro de Perinatologia, realizado este mês, em Brasília.

Prematuridade

Não se sabe ainda ao certo porque, mas o fato é que a incidência de nascimentos prematuros se mantém crescente no Brasil desde 1990 (média de 10%). Estima-se que o índice de bebês prematuros alcance este ano cerca de 14%.

Sem estatísticas que confirmem essa tendência, os médicos supõem que tal condição resulte de uma série de fatores, a começar pelo estilo de vida da mulher contemporânea, que vive às voltas com o enfrentamento diário do estresse, dieta inadequada, infecções recorrentes, tabagismo.

As mudanças observadas no microbioma humano (trilhões de bactérias e vírus que povoam as diferentes partes do corpo) também poderiam explicar o aumento no número de nascimentos prematuros, segundo esclarece o pesquisador e coordenador do Laboratório de Fisiologia Respiratória da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (RS) e coautor do estudo Brevi ("Brazilian Respiratory Virus Study"), Dr. Marcus Jones.

Estudo Brevi

Estudo epidemiológico e prospectivo, o Brevi acompanhou, de 2008 a 2010, 303 bebês nascidos com ou abaixo de 35 semanas de gestação (abaixo de dois quilos), em três centros de pesquisa (Porto Alegre Curitiba e Ribeirão Preto), com apoio da biofarmacêutica AbbVie. O objetivo foi mapear a incidência do VSR em infecções respiratórias graves em bebês que necessitam de internação.

Além do Vírus Sincicial Respiratório, o estudo identificou outros oito vírus respiratórios associados com maior frequência às infecções respiratórias e a infecções graves e seu impacto na saúde já fragilizada do bebê prematuro. Entre os quatro vírus mais associados a quadro graves, o VSR foi o mais frequente, seguido do rinovírus.

"O VSR é o vírus mais malvado para o bebê prematuro", esclarece Dr. Marcus Jones que também coordena os Cursos de Especialização da Faculdade de Medicina da PUC/RS. Publicado em outubro deste ano, o Brevi mostrou que o VSR foi responsável por cerca de 66,7% dos casos de hospitalização de bebês prematuros por problemas respiratórios como agente único ou em coinfecção com outros vírus. A infecção pelo VSR ocorreu em todos os meses do período estudado (entre 2008 e 2010), sendo observado maior pico nos meses de abril a julho.

Presente o ano todo

Embora tenha sua sazonalidade mais definida em outros países (no outono e inverno), no Brasil, o VSR circula praticamente o ano inteiro. Num País com dimensão continental como o nosso, a 'estação do vírus' começa normalmente pela região Norte, seguida do Nordeste, Sudeste e Sul.

Ainda não há uma explicação para o modo como o vírus circula no Brasil. No entanto, é sabido que sua presença não está relacionada a baixas temperaturas.

Não há tratamento para o VSR, somente para amenizar os sintomas, afirma a pesquisadora do IMIP, Dra. Patrícia Bezerra. Para casos mais graves em bebês prematuros há apenas uma medicação, cujo alto custo inviabiliza seu uso.

Uma das questões levantadas pelos pesquisadores diz respeito à falta de um protocolo - medidas profiláticas - voltado especificamente para o prematuro. No âmbito preventivo, existe uma lei federal que determina o uso de um anticorpo monoclonal (injeções mensais) para os bebês do grupo de risco.
"O difícil diagnóstico se deve à falta de uma rotina/condutas a serem seguidas em todas as unidades hospitalares. Também seria necessário haver um exame específico para identificar o VSR", diz a médica. O mesmo não ocorre com outros vírus, a exemplo do influenza, que possui um monitoramento oficial (Fiocruz).

Estudo Previne

Antes do "Brazilian Respiratory Virus Study" (Brevi), a incidência do Vírus Sincicial Respiratório (VSR) foi objeto de outro estudo, o Previne, realizado em 2012, em quatro capitais nordestinas (Maceió, Aracaju, Salvador e Recife) com um grupo de 500 crianças, de 0 a 2 anos, hospitalizadas por infecção respiratória. As análises foram feitas mediante a coleta de secreção.

Na Região, o estudo observou maior prevalência do vírus em bebês prematuros durante a estação das chuvas, ou seja, a partir de março. No Sul e Sudeste, o pico do VSR costuma ocorrer entre os meses de junho e agosto.

Fique por dentro

NE concentra 14,7% dos partos prematuros

A prematuridade atinge 15 milhões de crianças todos os anos no mundo. No Brasil, 340 mil bebês nasceram prematuros só em 2012, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do SUS e do Ministério da Saúde. Isso significa que nascem 931 prematuros/dia ou 40 por hora, no Brasil, indicando uma taxa de prematuridade de 12.4%, o dobro do índice de alguns países europeus.

Segundo pesquisa da Unicamp, o índice médio de prematuridade foi maior na região Nordeste (14.7%) e menor no Sudeste (11.1%). Cerca de 80% dos nascimentos prematuros ocorreram entre a 32ª e a 36ª semana de gestação e 7.4% antes das 28 semanas.

Entre os diversos riscos pesquisados, 14 são importantes indicadores para a detecção precoce de um nascimento prematuro: gravidez múltipla (de gêmeos ou mais bebês), encurtamento do colo do útero, má formação fetal, sangramento vaginal e menos de seis consultas realizadas durante o pré-natal. Também há risco entre as mulheres que já tiveram uma gravidez no passado, parto prematuro e aborto prévio (e o aumento do volume de líquido amniótico ao redor do feto). Segundo o estudo, a chance de um parto prematuro também foi maior entre mães com menos de 19 anos e sem um parceiro, que fumam e tiveram infecções durante a gestação.

Giovanna Sampaio
Editora do Vida

Fonte: Diário do Nordeste

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