O Casarão Hotel é um dos dois prédios tombados pelo Patrimônio
Histórico Estadual em Barbalha. Outros sítios protegidos já
demonstram
sinais de abandono e falta de
manutenção pelo poder público
Fotos: Elizângela Santos
Barbalha. Cidades do Cariri aos poucos destroem o seu
passado e perdem o referencial histórico, principalmente a memória
arquitetônica. Vez por outra moradores reclamam da derrubada e abandono
de prédios que contam um pouco da história do lugar. Até o momento,
nenhuma edificação foi tombada pelo Instituto Nacional do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na região, mas há projetos em
andamento.
Um dos últimos prédios que foi derrubado em Barbalha, no início deste
mês, motivou a vinda da superintendência do Iphan no Estado à região, e
foi pedido o embargo da obra. Justamente no Centro histórico da cidade,
de frente a um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado, que é
o Casarão Hotel, concluído em 1859, e que lembra a aristocracia do
século XX de Barbalha.
É justamente da cidade onde há esse patrimônio melhor caracterizado e
ainda conservado na região que chama atenção a forma como, aos poucos, a
possibilidade desenvolver turismo para admirar essa velha arquitetura
está ruindo. Prédios nas proximidades de edificações tombadas não podem
ser destruídos sem antes haver uma avaliação da situação de como se
encontra, para ser recuperado em sua originalidade. A antiga casa
pequena, mas com fachada ainda preservada, é ligada a uma construção do
século XIX, onde funcionava um comércio.
Demolições de casas no Centro Histórico de Barbalha acontecem no
presente, enquanto que, em Juazeiro, essa ação destruiu boa parte das
edificações antigas
Benefício
O Centro histórico foi beneficiado com uma lei municipal, que
possibilita a proteção das edificações mais antigas, sejam residências
ou estabelecimentos comerciais. Isso aconteceu em 1986 e, até hoje,
moradores sentem falta de benefícios que possam assegurar a manutenção
dos velhos casarões, alguns deles centenários.
Houve também o inventário de 44 casas na cidade, com indicações para
tombamento, mas há aquelas que desse tempo até hoje já foram destruídas
pelo desgaste do tempo ou pelos seus proprietários. Mas o gesto de
preservação tem sensibilizado alguns donos dos bens. Como é o caso de
prédios que estão sendo recuperados, mas continuam com as fachadas
intactas. O mesmo vem acontecendo em Crato, com edificações antigas no
Centro, mas que ainda não foram avaliadas como bens históricos, como o
antigo Cine Cassino, prédios públicos como o conjunto da estação
ferroviária da cidade e a casa de Câmara e Cadeia, na área da praça da
Sé onde muitas casas antigas já foram destruídas. Mas prédios antigos
recuperados passam a ser casos isolados. Há uma resistência e uma falta
de entendimento de algumas pessoas em relação à importância do
tombamento
Há cerca de quatro anos, a população de Barbalha resistiu à derrubada
de uma casa no Centro que pertencia às edificações da estação
ferroviária. Havia a dúvida se o prédio estava entre os que tinham sido
inventariados para o possível tombamento. Foi ao chão para que fosse
erguido no local um comércio de sapatos.
Mesmo assim, com o trabalho de educação patrimonial que se desenvolvia
na época, não houve avanços referentes ao cumprimento da lei municipal.
Avaliação
O superintendente do Iphan no Estado do Ceará, Murilo Cunha, afirma que
será realizada uma avaliação para verificar os prédios passíveis de
tombamento, diante dos que já foram inventariados, e avaliar os que
poderão ser inseridos.
Exemplos recentes são das duas igrejas da cidade, uma delas, a matriz
de Santo Antônio, onde foram encontrados os pisos originais,
identificados a partir de uma reforma que vem sendo feita no local, e
pinturas desde a construção.
O professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Josier Ferreira
Silva, tem tido a preocupação de fazer os registros, ao mesmo tempo em
que expõe a realidade e leva até as redes sociais. Ele acompanhou, no
início de novembro, a derrubada do prédio no Centro de Barbalha e também
fez os registros, que considera importantes descobertas, na igreja
matriz da cidade e até arrisca dizer que possivelmente o escritor e
jornalista José Marrocos, primo do Padre Cícero, possa ter caminhado por
aquele chão revestido de mosaicos. Com o novo levantamento a ser feito
por meio do Iphan, haverá todo um processo a ser seguido até o possível
pedido de tombamento provisório das edificações inventariadas, que
poderá durar até o definitivo.
Mesmo com denúncias anteriores da própria população da derrubada de
casarões e sobrados, o próprio poder público não tem se ocupado muito do
expediente de atuar de forma conscientizadora.
O prédio recentemente destruído fica em frente ao Casarão Hotel
histórico, onde funciona a Secretaria de Cultura da Cidade. O outro
prédio tombado pelo patrimônio histórico é o Palácio 3 de Outubro, que
teve sua fachada preservada há alguns anos. O professor Josier destaca
que as autoridades locais não sinalizam nesse momento quanto ao processo
de recuperação, que merece mais atenção do poder público. (E.S.)
Passado arquitetônico já não mais existe em Juazeiro
Juazeiro do Norte. Esta é uma cidade sem um passado arquitetônico que
identifique as suas primeiras construções. É de contar nos dedos os
últimos sobrados existentes no entorno da praça Padre Cícero e a estação
ferroviária construída e inaugurada pelo sacerdote, de 1926, passa por
sucessiva depredação.
Na Rua São José, no Centro, uma das primeiras vias da Cidade, são
poucos os prédios mais antigos, num município com apenas 103 anos de
história. A casa que serviu de morada ao sacerdote fundador de Juazeiro,
Padre Cícero, e um abrigo de idosos se destacam.
Muitos dos outros já edificados dão lugar às novas casas de comércio,
prédios comerciais e residenciais, em locais onde a especulação
imobiliária é altíssima, chegando a valores por metro quadrado
equivalentes a muitas capitais do Brasil.
Os velhos casarões e sobrados de Juazeiro que marcaram as primeiras
edificações do município praticamente não existem mais. Mesmo nas
fotografias, alguns dos locais, onde estavam prédios referenciais da
cidade, hoje sequer são identificados. Essa é a realidade de uma cidade
dinâmica que tem procurado se adequar a uma realidade de crescimento
constante. Os primeiros moradores que chegavam ao Juazeiro não tinham
uma preocupação com a memória da cidade, principalmente quando se fala
em edificações. Há áreas transformadas várias vezes nesses pouco mais de
cem anos. Esse mínimo valor afetivo pelas formas em concreto é
demonstrado pelo que resta.
Paisagens
O escritor Daniel Walker lembra de uma frase do monsenhor Murilo de Sá
Barreto, em que ele dizia que Juazeiro é de pouca geografia e muita
história, sobre a dinâmica de mudanças para a adequação do
desenvolvimento ao lugar. Ao repassar as paisagens antigas da velha
Juazeiro, quase nada resta como lembrança. A memória foi apagada em nome
do crescimento contínuo. E esse desenvolvimento passou a ter impulso
principalmente após o milagre de 1889, com o sangramento da hóstia
ofertada pelo Padre Cícero à beata Maria Araújo. A movimentação
aumentou, a polêmica se espalhou e todos queriam conhecer o padre santo,
que acolhia todos.
"O pior é que não existe ninguém do poder público para concretizar de
forma definitiva o tombamento dos nossos prédios históricos. Enquanto
isso, a gente vê placas em todo lugar estimulando a visitação turística
ao centro histórico de Barbalha", afirma o professor Josier. (E.S)
Mais informações:
Instituto do Patrimônio Histórico
E Artístico Nacional (Iphan-CE)
Rua Liberato Barroso, 525
Fortaleza
Telefone: (85) 3221.6263
E Artístico Nacional (Iphan-CE)
Rua Liberato Barroso, 525
Fortaleza
Telefone: (85) 3221.6263
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário