Ilustração artística da cobra de quatro patas, a partir do fóssil
encontrado na Chapada do Araripe.
A revista científica americana Science trouxe, nesta quinta-feira, 23, a descrição inédita do primeiro fóssil conhecido de uma serpente de quatro patas, que viveria na Chapada do Araripe, interior do Ceará,
há cerca de 120 milhões de anos. A descoberta é esclarecedora, pois
sugere que as cobras surgiram de lagartos terrestres da Gondwanna,
remanescente do supercontinente Pangea. A saída desconhecida do Tetrapodophis ("serpente de quatro patas", como foi batizado), no entanto, pode ter relação direta com o tráfico ilegal de fósseis brasileiros, que por lei, são considerados bens da União.
Os líderes da pesquisa são: o britânico David Martill, o americano Nicholas Longrich e o alemão Helmut Tischlinger, que dizem que o fóssil foi repassado para um museu na Alemanha após décadas em posse de um colecionador. "Quando eu vejo uma publicação dessas, eu tenho vontade de chorar. Desde os anos 60, foram centenas de fósseis que saíram do Brasil de forma ilegal. Esse material poderia estar sendo estudado aqui no Cariri, fomentando a nossa pesquisa", avaliou ao O POVO Online o paleontólogo e professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Álamo Feitosa Saraiva.
"Pessoalmente, eu não me importo em nada sobre como o fóssil veio do Brasil ou quando", disse Martill à Science, lembrando ainda que buscou permissão para trabalhar com fósseis no País e tentou ser recebido pela embaixada brasileira em Londres. Ele e Longrich concordaram com a devolução da Tetrapodophis, mas dizem que a autorização dependeria do museu Solnhofen, para quem está emprestado.
Os líderes da pesquisa são: o britânico David Martill, o americano Nicholas Longrich e o alemão Helmut Tischlinger, que dizem que o fóssil foi repassado para um museu na Alemanha após décadas em posse de um colecionador. "Quando eu vejo uma publicação dessas, eu tenho vontade de chorar. Desde os anos 60, foram centenas de fósseis que saíram do Brasil de forma ilegal. Esse material poderia estar sendo estudado aqui no Cariri, fomentando a nossa pesquisa", avaliou ao O POVO Online o paleontólogo e professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Álamo Feitosa Saraiva.
"Pessoalmente, eu não me importo em nada sobre como o fóssil veio do Brasil ou quando", disse Martill à Science, lembrando ainda que buscou permissão para trabalhar com fósseis no País e tentou ser recebido pela embaixada brasileira em Londres. Ele e Longrich concordaram com a devolução da Tetrapodophis, mas dizem que a autorização dependeria do museu Solnhofen, para quem está emprestado.
Para o professor da Urca, que também é coordenador científico do Geopark Araripe,
os fósseis em museus estrangeiros são um negócio muito rentável. "Ora,
quanto mais rara a peça, mais dinheiro eles vão captar com ela. É uma
pena, pois esse desenvolvimento poderia estar aqui, lugar de origem
dessa raridade", frisou Álamo.
Em junho, os pesquisadores do Geopark e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram o fóssil da ave mais antiga do Brasil, também na Chapada do Araripe. As serpentes de quatro patas, descritas pelos estrangeiros, são um divisor de águas para a pesquisa científica, ainda conforme o paleontólogo da Urca. "Não é só mais um fóssil, é a mais importante peça encontrada aqui até hoje. Muda toda a filogenia evolutiva das cobras. Era comprovado que os lagartos evoluiram para lagartos com corpo de serpente e patas, para depois serem serpentes. Esse é o 4° estágio, que antes não tinhamos comprovação".
A evolução a partir de animais terrestres, e não de criaturas marinhas, é sustentada pelo tamanho reduzido dos membros da criatura, com uma forma cilíndrica, no lugar de uma cauda achatada. Os dentes são pontudos e ligeiramente curvados, e o fóssil possui algumas escalas que se estendem por toda a largura da barriga, uma característica conhecida apenas em cobras.
Em junho, os pesquisadores do Geopark e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram o fóssil da ave mais antiga do Brasil, também na Chapada do Araripe. As serpentes de quatro patas, descritas pelos estrangeiros, são um divisor de águas para a pesquisa científica, ainda conforme o paleontólogo da Urca. "Não é só mais um fóssil, é a mais importante peça encontrada aqui até hoje. Muda toda a filogenia evolutiva das cobras. Era comprovado que os lagartos evoluiram para lagartos com corpo de serpente e patas, para depois serem serpentes. Esse é o 4° estágio, que antes não tinhamos comprovação".
A evolução a partir de animais terrestres, e não de criaturas marinhas, é sustentada pelo tamanho reduzido dos membros da criatura, com uma forma cilíndrica, no lugar de uma cauda achatada. Os dentes são pontudos e ligeiramente curvados, e o fóssil possui algumas escalas que se estendem por toda a largura da barriga, uma característica conhecida apenas em cobras.
Segundo os pesquisadores, o Tetrapodophis tinha membros delicados,
mas funcionais - que podem ter sido utilizados para agarrar a presa
"A
estrutura da coluna vertebral é flexível, com mais de 150 vértebras do
pescoço e do tronco. O número é maior do que as que existem em lagartos
sem patas, sugerindo que não são apenas uma adaptação para rastejar.
Essa flexibilidade e vértebras significa que essas serpentes eram
capazes de matar por constrição", relatou Longrich. As serpentes caçavam
pequenos vertebrados enrolando-se neles até esmagá-los; o fóssil
encontrado, por sinal, preservou restos de um pequeno animal em seu
intestino.
O Departamento Nacional de Produção Mineral informou que caso a saída do fóssil tenha ocorrido de forma ilegal, ele pode ser requerido ao governo alemão. "Eu acredito que muita coisa daqui ainda vai aparecer em publicações internacionais, da mesma forma que há uma saída ilegal de drogas, por exemplo, existe dos fósseis. Teremos ainda muitas surpresas, ainda vai ter descoberta de mamíferos", completou Álamo.
O Departamento Nacional de Produção Mineral informou que caso a saída do fóssil tenha ocorrido de forma ilegal, ele pode ser requerido ao governo alemão. "Eu acredito que muita coisa daqui ainda vai aparecer em publicações internacionais, da mesma forma que há uma saída ilegal de drogas, por exemplo, existe dos fósseis. Teremos ainda muitas surpresas, ainda vai ter descoberta de mamíferos", completou Álamo.
Patrimônio
O Decreto-Lei 4.146 de
1942 diz que ''os depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e,
como tais, a extração de espécimes fósseis depende de autorização prévia
e fiscalização do Departamento Nacional da Produção Mineral, do
Ministério da Agricultura''. Além disso, o Artigo 2º, parágrafo 1º, da
Lei 8.176, afirma que o fóssil não é um bem negociável: "todos os que
fazem a retirada de fósseis ou que os adquirem, transportam ou
comercializam, incorrem em crime contra a ordem econômica".
A
repatriação de fósseis é descrita por Álamo como uma verdadeira
"cruzada", pois já foram feitos pedidos ao Japão, Itália e Estados
Unidos. "A Urca, junto com a procuradoria de Juazeiro do Norte, busca
essa repatriação, mas o problema é que esses países não assinaram o
tratado da Unesco para devolução de patrimônio artístico e cultural que
sai ilegalmente dos países de origem. Eles se sentem no direito de não
devolver".
Serviço
O tráfico de fósseis será discutido no XXIV Congresso Brasileiro de Paleontologia, que ocorre entre os dias 2 a 6 de agosto. Mais informações: http://www.24cbp.com.br/
O tráfico de fósseis será discutido no XXIV Congresso Brasileiro de Paleontologia, que ocorre entre os dias 2 a 6 de agosto. Mais informações: http://www.24cbp.com.br/
Fonte: O Povo Online
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