A promessa é ambiciosa. Transferir recursos para qualquer parte do
mundo sob anonimato, sem pagar impostos nem tarifas bancárias. Trazidas
pelas moedas virtuais, as inovações podem custar caro. A falta de
segurança na internet, que facilita roubos e provoca perdas bruscas na
cotação, pode resultar em dor de cabeça para os adeptos da novidade.
As preocupações em torno da questão levaram o Banco Central
(BC) a emitir um alerta na semana passada em relação ao uso das moedas
virtuais. No comunicado, a autoridade monetária desaconselha a
utilização das moedas virtuais ou criptografadas por causa da falta de
garantias para a conversão em moedas oficiais, da ausência de regulação e
da baixa credibilidade em relação à aceitação do dinheiro online.
“O valor de conversão de um ativo conhecido como moeda virtual para
moedas emitidas por autoridades monetárias depende da credibilidade e da
confiança que os agentes de mercado possuam na aceitação da chamada
moeda virtual como meio de troca e das expectativas de sua valorização.
Não há, portanto, nenhum mecanismo governamental que garanta o valor em
moeda oficial dos instrumentos conhecidos como moedas virtuais, ficando
todo o risco de sua aceitação nas mãos dos usuários”, advertiu o Banco
Central.
A autoridade monetária também esclareceu que as moedas virtuais são diferentes da moeda eletrônica,
criada por lei em outubro. Regulada pelo Banco Central, a moeda
eletrônica prevê a realização de transferências e pagamentos por meio de
créditos e débitos nos telefones celulares e outros dispositivos
eletrônicos. As transações, ressalta o órgão, são realizadas em moeda
nacional, diferentemente das moedas virtuais, que necessitam ser
convertidas.
O alerta ocorreu depois que computadores que servem como bolsas de bitcoin, moeda virtual mais usada atualmente, sofreram ataques de hackers
na última semana. Com a impossibilidade de fazer transações, o valor da
moeda despencou, prejudicando quem trocou moedas oficiais pelo dinheiro
online. Também contribuiu para a queda da cotação a decisão da Rússia e da China
de tornar ilegal o uso do bitcoin, sob a alegação de que a ferramenta
facilita transações criminosas como lavagem de dinheiro, ocultação de
bens e evasão de divisas.
Para o presidente da Safernet Brasil (organização que
monitora a segurança da internet no país), Thiago Oliveira, esses fatos
mostram que o uso de moedas virtuais é arriscado. “Esse tipo de moeda
pode estar imune a problemas do sistema financeiro tradicional, como
inflação e crises econômicas, mas é extremamente afetada por novos tipos
de crises. A cotação não flutua pelas leis de mercado, mas depende da
vulnerabilidade das redes”, diz.
Oliveira esclarece que, em muitos casos, o usuário pode perder mais
dinheiro se for surpreendido por uma desvalorização da moeda virtual do
que pagaria em impostos e tarifas nas transações reais. “Um pai que
transfere dinheiro para o filho no exterior paga 6,38% de IOF
[Imposto sobre Operações Financeiras], mais tarifas bancárias. Se
tivesse usado bitcoin, o filho seria prejudicado ao converter o dinheiro
virtual em dólares porque a cotação caiu 8% nos últimos dias”, explica.
Outro risco das moedas criptografadas, destaca o presidente da
Safernet, consiste nos roubos virtuais. O anonimato nas transferências,
que representa um atrativo para alguns adeptos, também torna impossível a
localização do recurso furtado caso um cracker roube a chave privada
que dá acesso à carteira virtual.
“As cédulas e os cheques têm número de identificação. Os cartões de
crédito podem ser bloqueados. Mesmo o dinheiro furtado nos sites dos
bancos vai para alguma conta corrente. No caso das moedas virtuais, a
vítima não consegue rastrear para onde vão os recursos nem tem com quem
reclamar”, adverte Oliveira.
Fonte: Diário do Nordeste
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