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terça-feira, 18 de março de 2014

Postar fotos de filhos requer cuidado

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Sem perceber, muitos pais acabam disponibilizando vasto
 material de seus filhos nas redes sociais, expondo-os a
 futuros constrangimentos FOTO: TUNO VIEIRA 

As tecnologias causaram uma verdadeira revolução na forma das pessoas se relacionarem. Com celulares conectados à internet, uma recente mania dos pais é de postar fotos de seus filhos nas redes sociais. Na ânsia por registrá-los, praticamente todos os momentos do cotidiano acabam sendo compartilhados.

Alguns vão desde a maternidade até momentos íntimos, dos pequenos dormindo, comendo, cantando, dançando, brincando, fazendo "traquinagem", na escola, distraídos enquanto assistem televisão, brincam com o celular, meninas de batom, com a sandália alta da mãe, de biquíni, tomando banho e até em situação vulnerável, quando estão doentes. Mas afinal, até que ponto essa exposição é saudável? Quais os riscos que ela oferece?

O antigo álbum fotográfico, que se constituía na memória da infância do bebê, com registros do primeiro banho, da primeira palavra dita, da primeira vez que andou, da primeira consulta médica, do primeiro banho de mar, deixou a esfera do privado para se tornar em um vasto acervo virtual, com acesso irrestrito. Foi com intuito de mostrar à família e a uma sobrinha, que moram longe, o desenvolvimento de sua filha, hoje com dois anos, que a empresária e professora de geografia, Naina Holanda, 31, começou a postar nas redes sociais Facebook e Instagram momentos do cotidiano da filha.

As postagens são públicas, ou seja, qualquer pessoa pode ver. Mas, para preservar a filha, a empresária conta que toma certos cuidados, como evitar compartilhar momentos da pequena de fraldas, de biquíni ou com determinadas poses e caras e bocas que possam ser mal interpretadas. Porém, confessa que, com o passar do tempo, o hábito se tornou vício. Ainda assim, garante que não a força a nada.

Roupas

Quando a filha não está afim, diz que simplesmente respeita a sua vontade. "Quando demoro para postar, algumas amigas já cobram as fotos. Outras, que nem a conhecem, quando me encontram na rua me abordam e perguntam por ela, dizem que querem tirar foto com ela", comenta, satisfeita. Outro cuidado que procura ter é em relação às roupas que a filha usa. Faz questão de que sejam infantis, para evitar a adultização da criança, muito comum hoje em dia.

Apesar de ser uma prática bastante comum, especialistas alertam que é preciso estar atento ao que é disponibilizado na rede e sobretudo com os excessos. Sem perceber, os próprios pais acabam disponibilizando na internet um rico acervo do bem mais precioso que possuem: seus filhos. Além da ação de pedófilos, que poderão se aproveitar da superexposição para fazer uso indevido desse material, existe ainda o risco de constrangimentos futuros, com fotos "engraçadas" ou em situações inusitadas.

Andréa Cordeiro, psicóloga e coordenadora do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (Nucepec) da Universidade Federal do Ceará ressalta que, para o pedófilo, mesmo a foto mais inocente pode ganhar um teor erótico. Por isso, o cuidado deve ser redobrado, pois nas redes sociais a pessoa não está mostrando o registro só para um ciclo de amigos, mas para o mundo inteiro.

"Quando a pessoa posta uma foto na internet, não existe controle de como esse material será interpretado e utilizado, uma vez que ela pode ser copiada e utilizada para outros fins, que não o encanto dos pais pelo seu rebento. Abre espaço para o risco do uso por pessoas más intencionadas. O mais grave seria o pedófilo", chama atenção.

A especialista destaca que é preciso haver um esclarecimento para que esse uso por parte dos pais seja sensato. Uma dica que dá é de restringir a quem vai estar acessível essas fotos. "As pessoas compartilham fotos sem maldade, mas acabam expondo o que têm de mais rico e mais fantástico ao que tem de mais perverso", salienta a coordenadora do Nucepec.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
 
Qual a necessidade de expor?
 
Sabrina Matos
Psicóloga, psicanalista e professora da Unifor
 
 
O assunto é relevante e diz respeito a um sintoma dos nossos tempos: o excesso. Tudo demais é veneno, não é mesmo? Que necessidade é essa que as pessoas têm de se exibirem e de exibirem seus filhos? Que necessidade é essa de “ser curtido”? Penso, imediatamente, no conceito de desamparo em psicanálise. Como somos sujeitos da falta, da incompletude estamos sempre em busca de algo que vá tamponar essa condição faltante. Sabemos que não há nada e ninguém que consiga dar conta desse “buraco”. Esse “buraco”, essa falta é estruturante.
 
Se alguém tem a necessidade de ser visto, de se exibir o tempo todo, poderíamos pensar que de alguma forma sente que não existe e precisa da confirmação do outro. Penso também que muitos pais tentam realizar nos filhos aquilo que não realizaram. 
 
Quando você fala dos riscos de expor fotos dos filhos na internet poderíamos também sinalizar: e as roupas que muitas mães colocam nas filhas? É a adultização e a erotização precoce dessas meninas. É uma moda para pedófilos sem sombra de dúvida. Mas a nossa rainha dos baixinhos também não se vestia de forma erotizada? E muitas mães vestiam suas filhas iguais a rainha? E as novelas? E as músicas? Viver é sempre um risco. E cada um segue de acordo com sua miopia! 

Luana Lima
Repórter

 Fonte: Diário do Nordeste

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