Sem perceber, muitos pais acabam disponibilizando vasto
material de seus
filhos nas redes sociais, expondo-os a
futuros constrangimentos FOTO:
TUNO VIEIRA
As tecnologias causaram uma verdadeira revolução na forma das pessoas
se relacionarem. Com celulares conectados à internet, uma recente mania
dos pais é de postar fotos de seus filhos nas redes sociais. Na ânsia
por registrá-los, praticamente todos os momentos do cotidiano acabam
sendo compartilhados.
Alguns vão desde a maternidade até momentos íntimos, dos pequenos
dormindo, comendo, cantando, dançando, brincando, fazendo "traquinagem",
na escola, distraídos enquanto assistem televisão, brincam com o
celular, meninas de batom, com a sandália alta da mãe, de biquíni,
tomando banho e até em situação vulnerável, quando estão doentes. Mas
afinal, até que ponto essa exposição é saudável? Quais os riscos que ela
oferece?
O antigo álbum fotográfico, que se constituía na memória da infância do
bebê, com registros do primeiro banho, da primeira palavra dita, da
primeira vez que andou, da primeira consulta médica, do primeiro banho
de mar, deixou a esfera do privado para se tornar em um vasto acervo
virtual, com acesso irrestrito. Foi com intuito de mostrar à família e a
uma sobrinha, que moram longe, o desenvolvimento de sua filha, hoje com
dois anos, que a empresária e professora de geografia, Naina Holanda,
31, começou a postar nas redes sociais Facebook e Instagram momentos do
cotidiano da filha.
As postagens são públicas, ou seja, qualquer pessoa pode ver. Mas, para
preservar a filha, a empresária conta que toma certos cuidados, como
evitar compartilhar momentos da pequena de fraldas, de biquíni ou com
determinadas poses e caras e bocas que possam ser mal interpretadas.
Porém, confessa que, com o passar do tempo, o hábito se tornou vício.
Ainda assim, garante que não a força a nada.
Roupas
Quando a filha não está afim, diz que simplesmente respeita a sua
vontade. "Quando demoro para postar, algumas amigas já cobram as fotos.
Outras, que nem a conhecem, quando me encontram na rua me abordam e
perguntam por ela, dizem que querem tirar foto com ela", comenta,
satisfeita. Outro cuidado que procura ter é em relação às roupas que a
filha usa. Faz questão de que sejam infantis, para evitar a adultização
da criança, muito comum hoje em dia.
Apesar de ser uma prática bastante comum, especialistas alertam que é
preciso estar atento ao que é disponibilizado na rede e sobretudo com os
excessos. Sem perceber, os próprios pais acabam disponibilizando na
internet um rico acervo do bem mais precioso que possuem: seus filhos.
Além da ação de pedófilos, que poderão se aproveitar da superexposição
para fazer uso indevido desse material, existe ainda o risco de
constrangimentos futuros, com fotos "engraçadas" ou em situações
inusitadas.
Andréa Cordeiro, psicóloga e coordenadora do Núcleo Cearense de Estudos
e Pesquisas sobre a Criança (Nucepec) da Universidade Federal do Ceará
ressalta que, para o pedófilo, mesmo a foto mais inocente pode ganhar um
teor erótico. Por isso, o cuidado deve ser redobrado, pois nas redes
sociais a pessoa não está mostrando o registro só para um ciclo de
amigos, mas para o mundo inteiro.
"Quando a pessoa posta uma foto na internet, não existe controle de
como esse material será interpretado e utilizado, uma vez que ela pode
ser copiada e utilizada para outros fins, que não o encanto dos pais
pelo seu rebento. Abre espaço para o risco do uso por pessoas más
intencionadas. O mais grave seria o pedófilo", chama atenção.
A especialista destaca que é preciso haver um esclarecimento para que
esse uso por parte dos pais seja sensato. Uma dica que dá é de
restringir a quem vai estar acessível essas fotos. "As pessoas
compartilham fotos sem maldade, mas acabam expondo o que têm de mais
rico e mais fantástico ao que tem de mais perverso", salienta a
coordenadora do Nucepec.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Qual a necessidade de expor?
Sabrina Matos
Psicóloga, psicanalista e professora da Unifor
O assunto é relevante e diz respeito a um sintoma dos nossos tempos: o
excesso. Tudo demais é veneno, não é mesmo? Que necessidade é essa que
as pessoas têm de se exibirem e de exibirem seus filhos? Que necessidade
é essa de “ser curtido”? Penso, imediatamente, no conceito de desamparo
em psicanálise. Como somos sujeitos da falta, da incompletude estamos
sempre em busca de algo que vá tamponar essa condição faltante. Sabemos
que não há nada e ninguém que consiga dar conta desse “buraco”. Esse
“buraco”, essa falta é estruturante.
Se alguém tem a necessidade de ser visto, de se exibir o tempo todo,
poderíamos pensar que de alguma forma sente que não existe e precisa da
confirmação do outro. Penso também que muitos pais tentam realizar nos
filhos aquilo que não realizaram.
Quando você fala dos riscos de expor fotos dos filhos na internet
poderíamos também sinalizar: e as roupas que muitas mães colocam nas
filhas? É a adultização e a erotização precoce dessas meninas. É uma
moda para pedófilos sem sombra de dúvida. Mas a nossa rainha dos
baixinhos também não se vestia de forma erotizada? E muitas mães vestiam
suas filhas iguais a rainha? E as novelas? E as músicas? Viver é sempre
um risco. E cada um segue de acordo com sua miopia!
Luana Lima
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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